quinta-feira, 27 de abril de 2023

4936) Sete mortes misteriosas (27.4.2023)


 
1
Oleg Demerov, russo, 48 anos, investidor em criptomoedas, proprietário de minas de estanho, produtor cinematográfico, caiu, jogou-se ou foi jogado da janela de seu quarto de hotel no trigésimo andar, em Santiago do Chile, onde se encontrava a passeio com sua noiva Masha Kurulenko, 22 anos. Demerov estava num ritmo alucinante de trabalho, envolvido no seu super-projeto de uma cinebiografia não-autorizada de Vladimir Putin, a ser interpretado por Daniel Craig por um cachê na ordem dos oito dígitos. Demerov acabava de chegar ao Chile depois de passar um mês entre Auckland e Dresden, acompanhando um grupo de pesquisadores, e tinha uma entrevista agendada com a CNN na semana seguinte, no Texas, na qual iria fazer importantes revelações.  
 
2
Sylvie Froussière, 19 anos, moradora de Nantes, desapareceu na noite de seu aniversário, até seu corpo ser encontrado dias depois numa floresta nos arrabaldes da cidade.  Crises histéricas de sofrimento por parte de alguns amigos e amigas, estranhamente ausentes no velório, despertaram a curiosidade da polícia, que apertou os interrogatórios até descobrir que o grupo se cotizara para pregar-lhe uma surpresa, abordando-a, todos de macacão escuro e touca ninja, numa rua deserta, vendando seus olhos, conduzindo-a a uma granja da família de um deles onde a esperavam champanhe, balões comemorativos, muita música, muitos salgadinhos na companhia de sua dúzia de amigos mais próximos, os quais perderam a cabeça quando a retiraram da van e constataram sua parada cardíaca de puro susto, sendo baldadas todas as tentativas de reanimação, dando origem a uma briga feroz entre os que advogavam a confissão total às autoridades e os que queriam ocultar o corpo como se nada tivesse acontecido. 
 
 
3
Igor Ivanovich Oblamov, 71 anos, foi assassinado misteriosamente na mesma noite que seus filhos Piotr (46 anos), Lev (42 anos) e Andrei (39 anos), todos solteiros e que moravam com ele, nos arredores de Oblonska, na Geórgia meridional. Pai e filhos eram caçadores e colecionadores de armas, e foram mortos com uma metralhadora, em diferentes cômodos de “dacha” onde estavam passando o verão. Os corpos foram encontrados ao amanhecer pelo leiteiro que os servia; a única pessoa sobrevivente do massacre foi a cozinheira Nadezhda, 33 anos, que servia à família desde garota, e foi achada em estado de choque, agachada no interior de um banheiro. As autoridades locais teceram suposições de tentativa de assalto e de vingança, pois as vítimas eram conhecidas pelo seu temperamento explosivo e autoritário. A cozinheira foi levada a um hospital, onde ficou sob cuidados médicos durante duas semanas, e ao receber alta guardou suas coisas numa malinha, pegou um trem e nunca mais foi vista.
 
 
4
Ralph Kaprinski, 61 anos, dono de uma cadeia de lanchonetes em Minneapolis, preparou com cuidado a próprio suicídio após descobrir-se no estágio terminal de uma grave doença. Depois de tomar várias providências jurídicas (testamento, liquidação de dívidas, etc.), trancou-se na cabana que lhe servia de escritório, nos fundos de sua casa de fazenda, redigiu e datou de próprio punho um bilhete de despedida para sua esposa Marjorie, 60 anos, colocou na mesa à sua frente a caixa de comprimidos que iria tomar, junto com uma garrafa de seu vinho preferido, e foi encontrado pela manhã, vítima de um tiro na nuca, disparado por uma pistola que não foi encontrada na cabana, trancada pelo lado de dentro. 
 
5
Henry Koshavik, 30 anos, publicitário numa agência em Manhattan, bolou uma surpresa para o aniversário de sua namorada, Judy Plimpton, 27 anos, a qual tinha um fetiche erótico (publicamente assumido) pelo Homem Aranha. Cedinho naquela manhã do ano de 2001, foi para a garagem de uma empresa de entregas, vestiu-se de Homem Aranha, e fez-se encerrar num contêiner vertical, do tamanho de uma cabine telefônica, o qual foi embarcado num furgão e remetido para a casa onde morava a moça, a algumas quadras dali. Foi durante este curto trajeto, e naquele mesmo trecho da cidade, que os aviões terroristas derrubaram as Torres Gêmeas, espalhando o caos e cobrindo de poeira e de detritos inúmeras ruas e centenas de veículos, inclusive o tal furgão, cujo motorista morreu na hora. O veículo permaneceu soterrado e dias depois foi removido e rebocado, sem maiores exames, para um depósito de emergência situado em Staten Island, onde uma intrigante descoberta está à espera dos investigadores de uma década futura. 
 
6
Funcionários de um hotel em Harrogate (Yorkshire), chamaram a polícia depois de ouvir disparos num quarto recém-ocupado. Arrombada a porta, foram encontrados três corpos: Stephen Miller (41 anos), Samson Duncalf (35 anos) e Annabelle Ridgeway (40 anos). Foi comprovado, por vários depoimentos, que Miller e Ridgeway moravam na cidade e tinham um caso amoroso há alguns anos, apesar de não viverem juntos; outras testemunhas garantiram que Samson Duncalf, que morava em Londres, vinha nos últimos meses encontrando-se às escondidas com ela. Os três chegaram juntos ao hotel, sem bagagem, pouco depois do meio-dia, e três horas depois ouviram-se os tiros. Pela posição dos corpos e pelo exame dos ferimentos, foi estabelecido que os três estavam sentados no chão, cada um com uma arma de fogo (Miller tinha uma pistola automática, os outros tinham revólveres) e dispararam simultaneamente uns sobre os outros, na cabeça: Miller acertou Duncalf, este acertou Ridgeway, e ela atingiu Miller. O Inspetor Pettinger, da polícia local, declarou aos repórteres: “Tudo sugere tratar-se de um pacto de suicídio, a três, planejado e executado com uma mistura de desespero e frieza. E cada um deles com absoluta confiança de que os outros dois fariam o que foi combinado”. 
 
7
No terceiro mês do terceiro Tenwa, na corte do Lorde Wakimodo, em Yedo, o seu principal samurai, Yamasuké, apareceu certo dia com um ar transtornado, e ajoelhando-se diante dos seu lorde anunciou que tinha cometido um crime inominável e que por isso devia praticar o sepukku ou haraquiri, o suicídio ritual. Foi grande a comoção na casa nobre e o espanto do lorde, mas ninguém conseguiu arrancar de Yamasuké qualquer informação sobre a baixeza ou o crime bestial que cometera. Depois de um dia inteiro de discussões, o lorde curvou-se aos imperativos da honra, e os preparativos começaram a ser feitos no pátio, para a cerimônia na manhã seguinte. Yamasuké pediu a seu wakatö (escudeiro), Yokushi, que o assistisse nos procedimentos, como seu kaishakunin,  e cortasse sua cabeça, conforme o costume, no momento adequado. Pela manhã, estavam todos os membros da casa nobre prontos para assistir o ritual. Yamasuké, agindo como que num sonho, fez as abluções e os demais preparativos e sentou-se na posição tradicional. Quando empunhou a tantö e se preparou para o golpe, houve no céu um relâmpago fortíssimo que cegou momentaneamente todos os presentes, seguido por alguns segundos de escuridão total e de um trovão ensurdecedor, que fez a casa estremecer. Quando todos se recuperaram do susto e puderam enxergar novamente, perceberam horrorizados que Yokushi, o escudeiro, estava caído sobre a própria espada que empunhava instantes atrás, morto; e que no grupo dos assistentes estava também caída no chão, lívida e morta, a jovem e bela esposa de Yamasuké. Quanto a este, pareceu emergir de um pesadelo, saltou, ficou de pé horrorizado e pôs-se a perguntar a todos o que estava acontecendo. As crônicas da época registram apenas que depois desse dia Yamasuké raspou a cabeça e tornou-se monge andarilho.