terça-feira, 27 de junho de 2023

4956) Primeiras Estórias: os temas eternos (27.6.2023)




O mês de julho é de férias pra todo mundo, menos para os free-lancers. Vou aproveitar esse mês em que muita gente fica com a agenda mais liberada e vou oferecer mais um curso online pelo Instituto Estação das Letras. A vantagem do curso online é poder captar alunos do Brasil inteiro, e mais além, se for o caso. Meu curso mais recente (“Lendo Sagarana”, março/maio) teve alunos de Pernambuco, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, etc. 
 
Como foi grande o interesse em discutir os contos de Guimarães Rosa, farei agora em julho, todas as segundas e quartas-feiras, “Primeiras Estórias: os Temas Eternos”. 
 
A motivação principal para estes cursos é o fato de que o romance Grande Sertão: Veredas (1956), por ser a obra mais monumental do escritor mineiro, acaba atraindo a maior parte das análises, dos comentários, das leituras. Não tenho nenhuma objeção: é um desses livros inesgotáveis, cuja releitura sempre me dá prazer e proveito.  
 
Os contos de Rosa, no entanto, ficam meio jogados para escanteio, o que é um desperdício, porque são consistentemente ótimos, originais, personalíssimos. É uma obra contística incomparável, em termos de variedade, domínio da linguagem, imaginação, carga afetiva e emocional, observação perceptiva da vida brasileira, busca do significado cósmico da existência humana. 
 
No curso sobre Sagarana (1946), tivemos dez aulas: uma introdução e nove aulas sobre os nove contos do livro. O livro Primeiras Estórias (1962) tem 21 contos e seria contraproducente estender o curso até 21 aulas. Além do mais, eu não determino sozinho o formato do curso – ele precisa se encaixar na grade de programação do IEL, que realiza simultaneamente inúmeros cursos, oficinas e palestras. 
 
Vai daí que arrumei os 21 contos do mestre Rosa em oito áreas temáticas que cobrem, de modo aproximado, todas as estórias. Advirto sempre que meus cursos não são cursos acadêmicos, de minuciosa análise estilística, linguística, estrutural, etc.  Sou um leitor antes de ser escritor, e minhas palestras tentam chamar a atenção para os aspectos essenciais dos contos, e quebrar a aura de “dificuldade”, “ilegibilidade”, “hermetismo” que muita gente ainda atribui à obra de Rosa. 
 
Rosa era um erudito, um poliglota, um homem de vastas leituras, mas acima de tudo era um apaixonado pela língua portuguesa-brasileira, e pela arte de contar estórias. Levava ao pé da letra aquela máxima de “dizer as coisas velhas de maneira nova”. Escrevia se divertindo, escrevia dando gargalhadas, escrevia com a alegria de um menino-sabido que arma um alçapão de varetas para capturar um leitor. 




(ilustração: Luhan Dias)

A organização do curso (que começa na 4ª.feira, dia 5 de julho) está mais ou menos assim:
 
“Primeiras Estórias: os temas eternos”
Um estudo de alguns temas constantes na obra de Guimarães Rosa, com a leitura comparada dos contos do livro “Primeiras Estórias”.
Oito aulas, duas aulas por semana. Total: quatro semanas.
Das 19 às 21:00. Estação das Letras: (21) 99127-4088 
 
Aula 1 –  5 de julho, 4ª.feira, 19 às 21:00
A infância e suas descobertas
Contos: “As margens da alegria”/”Os cimos”, “A menina de lá”, “A partida do audaz navegante”, “Pirlimpsiquice” 
 
Aula 2 – 10 de julho, 2ª.feira, 19 às 21:00
Jagunços: violência e autoridade
Contos: “Os irmãos Dagobé”, “Famigerado”, “Fatalidade”, “Tarantão, meu patrão” 
 
Aula 3 – 12 de julho, 4ª.feira, 19 às 21:00
Viagens fantásticas
Contos: “Um moço muito branco”, “A terceira margem do rio”. 
 
Aula 4 – 17 de julho, 2ª.feira, 19 às 21:00
A alma feminina
Contos: “Substância”, “A benfazeja”. 
 
Aula 5 – 19 de julho, 4ª.feira, 19 às 21:00
Os doidos
Contos: “Sorôco, sua mãe, sua filha”, “Darandina”, “O cavalo que bebia cerveja”, “Tarantão, meu patrão”.
 
Aula 6 – 24 de julho, 2ª.feira, 19 às 21:00
O mistério da existência
Contos: “A terceira margem do rio”, “O espelho”, “Nada e a nossa condição”, “O cavalo que bebia cerveja”. 
 
Aula 7 – 26 de julho, 4ª.feira, 19 às 21:00
A arte de contar histórias
Contos: “Pirlimpsiquice”, “Partida do audaz navegante”, “O espelho”. 
 
Aula 8 – 31 de julho, 2ª.feira, 19 às 21:00
As formas do amor
Contos: “Nenhum, nenhuma”, “Sequência”, “Luas de Mel” 
 
Esta classificação é bem arbitrária, porque a maioria dos contos toca em vários destes temas, então a decisão de colocar cada num nesta “caixinha” e não em outra é apenas para facilitar a organização. 
 
Como sempre faço, utilizarei uma cópia do livro em PDF para vermos o texto na tela, quando necessário, mas reitero a minha recomendação de que todo mundo compre o livro físico. Não sei quanto está o preço na livraria. Seja quanto for, está barato. 
 
“Vida havendo e saúde não faltando”, como dizia José Saramago, pretendo no ano que vem (pois no segundo semestre deste ano tenho muitas viagens a fazer) preparar um curso semelhante. A dúvida é apenas optar entre as sete noveletas de Corpo de Baile (1956) e as quarenta historietas de Tutaméia (1967).  
 
Cada um de nós se esquecera de seu mesmo, e estávamos transvivendo, sobrecrentes, disto: que era o verdadeiro viver? E era bom demais, bonito – o milmaravilhoso – a gente voava, num amor, nas palavras: no que se ouvia dos outros e no nosso próprio falar. E como terminar?
("Pirlimpsiquice")