quarta-feira, 6 de março de 2013

3126) A mulher desaparecida (6.3.2013)




(by Gonul Koçak)


O episódio aconteceu na Islândia e desta vez não é invenção minha, aconteceu mesmo. 

Um grupo de turistas, de ônibus, percorria a região vulcânica de Eldgja, no sul do país.  A certa altura, quando o grupo, depois de um passeio a pé, retornou para o ônibus, alguém deu pela falta de uma passageira, que havia saído junto com os outros mas não voltara. Olharam em torno, examinaram a estrada, o motorista buzinou, e nada da mulher aparecer. 

Como a região é vulcânica, todos se preocuparam – ela poderia ter caído numa cratera, desmaiado devido aos gases, etc. O motorista pegou o microfone, e, no inglês previsivelmente carregado que se usa em qualquer país ocidental, explicou a todos do que se tratava, e deu uma breve descrição da mulher desaparecida: asiática, cerca de 1,60m de altura, falando bem inglês, vestindo roupa escura.

O serviço de emergência local foi acionado, e os demais passageiros do ônibus juntaram-se à busca pela mulher, percorrendo de novo os caminhos que tinham trilhado durante o dia. Cerca de 50 pessoas, ao todo, passaram a noite examinando aquela área, munidos de lanternas, aflitos porque com o passar do tempo aumentava a possibilidade de que algo mais grave tivesse acontecido.

A notícia (que colhi no saite Wanderlust, em: http://bit.ly/T1qqOp) informa apenas os fatos, mas posso usar a imaginação para dizer que entre os ansiosos buscadores havia uma senhora, também passageira da excursão, que a princípio estava tão preocupada quanto os demais, mas foi se tornando mais hesitante e dubitativa à medida que as horas se passavam. Enquanto todos iam aos poucos cedendo ao cansaço, ao pessimismo e já a uma certa resignação diante do inevitável, ela ficava mais inquieta, deixando transparecer um misto de angústia e confusão. 

E a certa altura, lá pelas 3 da madrugada,  chamou de lado alguns passageiros que vinham sentados em poltronas próximas, no ônibus, e fez um discreto interrogatório. Ao ouvir-lhes as respostas, soltou uma exclamação de desabafo, e abraçou-se com eles, nervosa: “Então sou eu!”.

Era ela, de fato. Durante o passeio tinha voltado ao ônibus para trocar a roupa escura que usava por outra mais quente, ou mais confortável; e no retorno sentara numa poltrona diferente (os assentos eram livres). Ninguém achou estranha sua presença, mas, curiosamente, alguns deram pela ausência da outra senhora que viera perto deles durante o trajeto. E ela, ao ouvir dizer que alguém estava faltando, não imaginou que pudesse ser ela própria, visto que estava ali.  

A literatura existencialista, por mais que se esforçasse, não conseguiu produzir uma parábola tão cristalina sobre os bugs embutidos no software da vida humana.