sexta-feira, 6 de maio de 2011

2549) Libertadores da América (6.5.2011)



Estou escrevendo estas linhas na noite de quarta-feira passada. (Nada como a literatura para comprimir o tempo de uma maneira tão elegante.) Foi para o futebol brasileiro “A Noite Triste”, e para os clubes de vários países latino-americanos “La Noche Buena”. Em quatro jogos na disputa pela Taça Libertadores da América, quatro times brasileiros foram eliminados numa mesma noite, uma marca que não sei se é recorde ou se tem precedentes nas décadas anteriores. Derrotas ainda mais dolorosas porque em três dos jogos os times brasileiros, tendo tido um bom resultado no jogo de ida, se consideravam praticamente classificados – e perderam. O Cruzeiro tinha derrotado o fraco Once Caldas na Colômbia e jogava em casa pelo empate; perdeu de 2x0. O Internacional tinha empatado com o Peñarol no Uruguai, e jogando em casa fez 1x0 no primeiro minuto de jogo; perdeu por 2x1. O Fluminense tinha derrotado o Libertad do Paraguai por 3x1, no Rio, e podia até perder por um gol de diferença; perdeu de 3x0. O que tinha a tarefa mais difícil era o Grêmio, que perdeu em casa para o Universidad Católica por 2x1, e agora perdeu de novo por 1x0.

É voz corrente na nossa imprensa esportiva que a Taça Libertadores da América é uma competição dificílima para os times brasileiros. Em 51 edições, os times do Brasil ganharam 14. Ainda assim, somos o segundo maior vencedor, e a Argentina é o primeiro com 22 títulos ganhos por seus clubes. Nossa imprensa fala sempre das viagens cansativas, das numerosas conexões aéreas, dos aeroportos pequenos, dos hotéis desconfortáveis. Agora, com a globalização dos serviços turísticos, isto pode ter se atenuado um pouco. Os estádios continuam verdadeiros caldeirões ou alçapões: arquibancadas muito próximas ao campo, torcidas exaltadas, arbitragens parciais, policiamento cúmplice; um pesadelo.

Há outro aspecto, no entanto, um aspecto simbólico. Não chego ao ponto de dizer que jogadores, técnicos e dirigentes estão preocupados com isto, ou sequer que têm consciência disto. Mas a Taça homenageia aqueles generais e líderes políticos que lutaram pela independência dos países latino-americanos: Artigas, Bolívar, San Martín, Sucre, O’Higgins... e D. Pedro I. Posso estar sendo injusto, mas pelo que sei esses líderes contribuíram em campo de batalha para a independência da Argentina, do Uruguai, da Venezuela, da Colômbia, da Bolívia, do Equador, do Peru, do Chile. Combateram no campo de batalha os exércitos espanhóis, e a maioria deles agiu de forma interligada, ajudando à libertação de países vizinhos. Já o Brasil libertou somente a si próprio. Sua maior façanha político-militar na América do Sul foi a destruição do Paraguai. Somos até hoje estrangeiros em nosso próprio continente. Um país imenso, poderoso, orgulhoso, que dá as costas aos demais e fita embevecido a Europa e a América do Norte. Somos o vizinho rico que todos os moleques da vizinhança querem derrotar.