quarta-feira, 7 de maio de 2014

3492) O nome do celular (7.5.2014)



Quando aparece uma novidade tecnológica, ela muitas vezes já vem batizada do laboratório (pelos técnicos que a criaram) ou da fábrica (pelos marqueteiros que vão colocá-la ao alcance do público).  Mas também acontece do produto sair com um nome e bem depressa a rua batizá-lo de novo. O produto na rua é outra coisa. É como você batizar um filho de Gumercindo e descobrir que no colégio ele virou Gugu.

O caso do telefone celular é interessante porque nos EUA ele é chamado de “cell phone” e na Inglaterra de “mobile”, e neste caso, pelo menos, seguimos os EUA. A gente não diz “Liga amanhã pro meu móvel”, embora a expressão “telefonia móvel”, para falar da indústria, seja corrente na imprensa e nos documentos jurídicos.

Um blog (aqui: http://tinyurl.com/qcroh6c) fez um levantamento sobre o modo de chamar esse aparelho em vários países. É um levantamento informal, mas em princípio merece uma olhada. O nome “cellphone” (e derivados, como “celular”) é predominante nos EUA, Brasil e Filipinas, e presente na Argentina e Cuba.  O termo “móvel”, nos seus derivados como “mobile”, predomina no Irã, Espanha, Dinamarca, Reino Unido, Nova Zelândia, Índia, Holanda.

Há outros termos interessantes,  como por exemplo “portable”, em francês, que se alterna com “mobile”, porque também é usado para computadores portáteis. A Coréia, a Alemanha, a Indonésia e a China usam “handphone” (ou “handy”), “telefone de mão”, que é simples e intuitivo.  Na Turquia, o também óbvio “pocket phone”, “telefone de bolso”, que seria o meu preferido numa votação, até porque me lembra “pocket book”.  Israel usa “Pelefon” que o saite em inglês traduz por “wonder phone”, “fone maravilha”.

Aqui no Brasil começamos usando “telefone celular” que foi logo abreviado para “celular” para distingui-lo do “telefone de linha”. Todo mundo diz: “Não me liga no telefone, liga no celular”.  Usamos também assim: “Não me liga no fixo, liga no celular”. “Fixo” é uma denominação retroativa, porque esse tipo de telefone só foi chamado assim depois que os telefones móveis apareceram. A interferência mais criativa do Brasil foi criar a piada do “telefone molecular”, que consiste em chamar um moleque, dar-lhe um recado e dizer que vá correndo. É uma cena machadiana (os personagens de Machado de Assis não vivem sem um moleque de recados capaz de disparar pela cidade afora para levar mensagens urgentes), mas ao mesmo tempo fico imaginando um tradutor estrangeiro de um romance nosso que se deparasse com esta expressão; se o contexto não desse mais informações, pensaria tratar-se de uma história de ficção científica.