terça-feira, 22 de julho de 2014

3557) Jogador que se joga (22.7.2014)



(Robben, o bailarino)

O jogador brasileiro confirmou e carimbou, nesta Copa, a sua fama de “flopper”, de jogador que se joga ao chão sem ter sofrido falta, fingindo ter sido atingido, para induzir o juiz à marcação de um pênalte.  Entre nós, na nossa cultura da malandragem, isto é visto como esperteza, como inteligência. Quem age assim tenta fazer de otário o jogador do outro time (que poderia ter feito a falta, optou por não fazê-la, e foi punido por isso) e o juiz (que acreditou na mentira).  

Essa malandragem de “cavar pênalte” é da mesma categoria do sujeito que paga o restaurante com cheque sem fundo, do sujeito que falta ao trabalho porque tomou uma carraspana e pede atestado médico a um doutor amigo, do sujeito que combina com alguém para que roube seu carro, embolsa o seguro e ainda vende o carro por baixo do pano. É disso que muitos brasileiros se orgulham.

Pois olhe, se eu fosse jogador de futebol e entrasse na área com a bola dominada eu faria como faz Lionel Messi – alguém só me derrubaria com um tiro de espingarda 12. Quem parte pra fazer o gol quer fazer o gol, mas esses atacantes de hoje quando sentem o bafo do zagueiro desabam como florzinhas no vendaval. Nesta Copa do Mundo, o ridículo pênalti marcado a favor do Brasil no jogo de estréia contra a Croácia (pênalti salvador, aliás), numa encenação patética de Fred, acabou sendo prejudicial a longo prazo. Pênaltis verdadeiros a nosso favor acabaram não sendo marcados, porque nosso time perdeu a pouca credibilidade que já tinha. É um tanto humilhante sair navegando pelos websaites de futebol mundo afora e perceber que nós, os ex-reis do futebol, somos hoje objeto de zombaria do mundo inteiro (antes mesmo dos 7x1), como covardes e desonestos, que têm medo de tentar o gol.

São só os brasileiros? É somente Neymar que é “cai-cai”?  Claro que não.  Esta Copa nos trouxe de volta o holandês Robben, um notório cavador de pênaltis graças a suas quedas acrobáticas (ganhou um de graça contra o México). Mas esse traço indica um indivíduo (ou todo um grupo social) que tem medo de ousar e prefere transferir a responsabilidade para alguém. O jogador-que-se-joga poderia tentar o gol, mas tem medo de perder e ser cobrado; acha melhor fingir que sofreu um pênalte e jogar a responsabilidade nas costas de um colega. É curioso que, apesar da aparente facilidade do pênalte, inúmeros atacantes desfrutam de uma chance muitíssimo melhor do que a cobrança de um penal, mas a covardia os inibe de tentar. Pode ser um sintoma daqueles povos que acham que o Governo é quem tem de resolver todos os problemas, e ele, cidadão, não tem dever algum, tem só direitos.