sábado, 29 de dezembro de 2012

3069) "Pânico no Ano Zero" (29.12.2012)





Neste filme dirigido (e interpretado) em 1962 por Ray Milland, um homem, sua esposa e o casal de filhos (na faixa dos 20 anos) estão na estrada com seu trailer rumo a umas férias na montanha quando veem de longe Los Angeles ser destruída por uma explosão atômica. As estradas ficam engarrafadas de carros em fuga, e começa uma luta desesperada pelos gêneros de primeira necessidade, e depois pela sobrevivência pura e simples, pois a Lei da Selva começa a se impor. Milland é um sujeito pacato de cujo passado nada sabemos (sequer sua profissão), mas uma das primeiras coisas que faz é comprar armas e afirmar que ninguém vai fazer mal à família dele. Nisto me lembrou muito o Walter White de Breaking Bad, para quem o argumento “estou defendendo minha família” justifica a priori qualquer transgressão, qualquer violência.

Eles se refugiam nas montanhas, abrigados numa caverna onde tentam simbolicamente recomeçar “do zero” a civilização. Arrumam a gruta com mesinha, cadeiras, etc., e dedicam-se à caça e às tarefas domésticas. Mas a Lei da Selva os persegue na pessoa de três jovens suspeitamente parecidos com os companheiros de James Dean em Juventude Transviada – rapazes que querem apenas assaltar, estuprar e divertir-se enquanto o mundo não acaba.

Milland faz um personagem complexo, porque adere com rapidez à violência (ao comprar as armas, por falta do dinheiro completo acaba assaltando o lojista), mas repreende com aspereza o filho que demonstrou prazer ao atirar num inimigo. Diz-lhe que ele tem o direito de matar alguém por auto-defesa, mas que não deve gostar daquilo.

A SF Encyclopedia informa que o filme se baseia (sem dar crédito) em dois contos de Ward Moore (publicados em 1953 e 54 na revista Fantasy & SF), intitulados “Lot” e “Lot’s daughter”. Há um certo paralelo com a história bíblica (os estranhos querendo estuprar a filha; a esposa que “olha para trás” e quer voltar para a cidade destruída).  Roubo, violência, assassinato a sangue-frio – o pai de família não recua diante de nada para proteger ou vingar a honra da família. Não sabemos quem atacou os EUA com bombas nucleares; sabemos que as grandes capitais do mundo foram atomizadas, que aquele ano foi denominado pela ONU “Ano Zero”, mas que a certa altura as conversações de paz chegam a um acordo. Os inimigos, na verdade, são os próprios norte-americanos. A certa altura, um médico se queixa de que as ruas estão cheias de patriotas matando e estuprando. É um pesadelo da Guerra Fria, e mesmo que as cenas de violência (tiros, socos, etc.) pareçam estranhamente ingênuas hoje, a transformação gradual dos personagens mantém o seu teor de ameaça.