quinta-feira, 19 de maio de 2011

2560) Estatísticas (19.5.2011)




Até que ponto podemos nos deixar induzir pelas estatísticas? Elas são um tremendo instrumento para análise, e ao mesmo tempo uma tremenda viseira, filtro, que só permite ver um tipo de coisa. 

Uma piada famosa diz que as estatísticas são como os biquínis: o que mostram é interessante, mas o que escondem é mais interessante ainda. 

Outra piada diz que três amigos saíram para caçar: um médico, um advogado e um estatístico. Um pato selvagem levantou voo. O médico atirou à esquerda e errou, o advogado atirou à direita e errou, e o estatístico gritou: “Acertamos!”.

Estatísticas têm um papel decisivo nas pesquisas de opinião, que decidem desde campanhas publicitárias de detergente até eleição do Presidente da República. Uma crítica que faço às estatísticas é que seu excesso de precisão mascara sua eventual irrelevância. O maior exemplo é o vício das estatísticas por computador que toma conta das transmissões de futebol. O jogador Fulano percorreu 4,5 km, o chute de Sicrano ia a 97 km por hora, o time tal é o que fez mais gols entre os 20 e 45 minutos do 2o. tempo... 

Isso ajuda o técnico, ajuda o adversário? Pode ajudar, remotamente. Mas precisa ser um técnico de muito bom senso para filtrar dessa emaranhado de números algo que seja útil do ponto de vista prático. E que possa ser posto em prática pelos brucutus ao seu dispor.

Existem exemplos curiosos de como as estatísticas moldam nosso modo de pensar. Os psicólogos costumam empregar o termo “efeito Lake Wobegon”, numa referência a uma cidade fictícia criada por Garrison Keillor, na qual “todas as mulheres são fortes, todos os homens têm boa aparência e todas as crianças são acima da média”. 

Algumas pesquisas nos EUA indicaram que 63% dos norte-americanos se consideram mais inteligentes do que a média da população, o que é uma impossibilidade estatística; numa pesquisa semelhante no Canadá, 70% dos entrevistados se consideram mais espertos do que o canadense médio.

O modo como as perguntas são feitas, é claro, faz essas percentagens mudarem dramaticamente. Lembro de um livro de Theodore Sturgeon (Venus Plus X) em que ele cita uma pesquisa feita nos EUA, em que a certa altura foi perguntado se todos os homens eram iguais, e 61% responderam que sim. Logo em seguida perguntaram se os negros são iguais aos brancos, e 4% disseram que sim. 

Aparentemente este exemplo comprova o quanto os norte-americanos são preconceituosos. Para mim, ao contrário, prova o quanto é fácil provar algo formulando as perguntas de certa maneira. A primeira pergunta é tão ampla que tem um sentido generalizante, filosófico. Ao respondê-la, pensamos no que a Constituição diz, abstratamente, sobre igualdades. 

Na segunda pergunta, o dado concreto (cor, aparência física) é jogado de maneira tão brusca que eu mesmo responderia que “não”. É como se me perguntassem: Os gordos são iguais aos magros? Os futebolistas são iguais aos astrônomos?