sexta-feira, 4 de julho de 2014

3542) O mundo acaba hoje? (4.7.2014)



E lá vai entrar em campo mais uma vez a coitada da Seleção Brasileira, carregando o peso das nossas expectativas, do nosso “complexo de viralatas”, do nosso valor de “gente bronzeada”, do nosso jeitinho, da nossa “grandiosa missão histórica”, do “nosso papel no concerto das nações”... Ganhe ou perca, esse grupo de rapazes vai para o sacrifício. Se perderem, virarão os bodes expiatórios de todas as nossas frustrações. Se ganharem, virarão (como dizia Paulo Emílio Salles Gomes) “bodes exultórios”, indivíduos meio que pegados no laço e transformados em heróis desmedidos, símbolos da Pátria, modelos de cidadania e de bravura guerreira.

Nesta Copa está dando tudo ao contrário. Otimistas com a vitória na Copa das Confederações, ano passado, dissemos: “O time tá pronto, é esse aí, e vai entrar arrasando.”  Nosso medo era com relação à Copa em si – os estádios, os transportes, a rede hoteleira, os assaltos, as manifestações... Na hora H, virou: bem ou mal, a Copa está acontecendo, os problemas são os normais de qualquer megaevento em qualquer país, e há um certo consenso da imprensa de que é uma Copa muito boa do ponto de vista esportivo e logístico. O problema agora é o nosso time.

No jogo contra o Chile, as crises nervosas, o chororô, as chances perdidas, o evidente nervosismo dos jogadores nos deixaram perplexos.  Mesmo jovens, são atletas experientes que jogam em grandes clubes, ganham fortunas, estão acostumados a grandes decisões. Como sempre, no entanto, botamos nas costas deles um peso desproporcional ao de uma competição esportiva, e só continuamos na Copa graças a duas bolas chilenas na trave. Nem a torcida escapou: quem tem dinheiro para pagar os ingressos caríssimos da Fifa é (ao que parece) gente que nunca pisou numa arquibancada. Não sabem torcer, não sabem incentivar o time. Vão esperando a goleada e contando com a festa. Quando o time adversário faz um gol, eles fazem beicinho e pedem o dinheiro de volta.

O time pode ganhar hoje? Pode ser campeão? Claro que pode, porque seu potencial é o mesmo dos candidatos de sempre (Alemanha, Holanda, Argentina, França, etc.).  Pode também dar adeus hoje ou no próximo jogo, pelos mesmos motivos. O que ele quer todos também querem. O brasileiro, sem perder o Complexo de Viralatas, adquiriu um Complexo de Liga da Justiça, de achar que qualquer seleção nossa é feita de super-heróis, que somos “o país do futebol” (não somos), que temos a obrigação de ganhar sempre (não temos). Vamos relaxar, pessoal. Relaxado se joga melhor, se torce melhor. Se ganharmos, festa. Ser perdermos, mais meio século no divã. Pode ajudar a forjar a consciência incriada da nossa raça.