sábado, 8 de maio de 2010

2014) Liberdade e permissividade (22.8.2009)



Estávamos, um grupo de amigos, conversando sobre o comportamento dos jovens de hoje. Preciso dizer que todos os amigos tinham entre 50 e 60 anos? É engraçado como os velhos observam tanto a vida dos jovens e os jovens não dão a mínima atenção à vida dos velhos. Acho que intuitivamente todos sabem quem tem algo a ensinar a quem. Enfim: – conversava-se, ria-se, e comparava-se o amanhã de ontem (o mundo onde viemos parar) ao ontem de amanhã (o mundo que nossos filhos recordarão um dia). No meio da conversa, falando de comportamento e de relações pessoais, alguém se saiu com uma frase mais ou menos assim: “Antes havia mais repressão, mas havia mais disposição para enfrentá-la. Hoje existe mais permissividade, mais galinhagem, mas, quando existe uma barreira, as pessoas não tem tanta coragem para enfrentar pressões e conseguir mais liberdade”.

Me pareceu uma boa tentativa de focalizar esse enorme paradoxo que a gente observa entre a adolescência dos nossos filhos e a nossa. Como sei que nenhum adolescente lê esta coluna, fico à vontade para comentar com os leitores que o mundo em que fomos jovens pareceria um pesadelo surrealista aos garotos e garotas de hoje. Eles não entenderiam, por exemplo, a nobre instituição do “namoro no terraço”, em que o rapaz e a moça, à noite, ficavam sentados lado a lado, de mãos dadas. No mesmo aposento (que não tinha de ser o terraço – podia ser a sala de visitas, etc.) era obrigatória a presença de uma terceira pessoa, fosse a mãe da moça, uma tia sonolenta, uma avó caduca, um irmão menor... Não fazia diferença quem fosse, o importante era que nem por um segundo aquele rapaz e aquela moça fossem deixados a sós, se não o defloramento da garota seria inevitável. (Não riam, meus jovens. Toda vez que um dos vigias saía da sala, acontecia algo inesquecível.)

Um casal de namorados (mesmo que tivessem 20, 25 anos) só ia ao cinema se fosse acompanhado por uma terceira pessoa, geralmente um irmão mais novo ou uma amiga da futura vítima. (Ainda por cima, o pretendente tinha que bancar três ingressos!) Um amigo já me confessou: “Na primeira vez em que fiquei a sós com Fulana, com quem namorava há mais de um ano, ficamos nos achando estranhos. Não sabíamos como éramos sem uma pessoa olhando”.

Sou um cara otimista, e acho que a cada geração que se sucede a Humanidade vai aposentando formas desnecessárias de sofrimento. Hoje, tudo que falei acima é muito engraçado; na época, daríamos o olho direito e o braço esquerdo pela chance de passar uma noite a sós. Hoje, um rapaz de 18 anos vai (consentidamente) para o apartamento da namorada, cujos pais estão viajando, e provavelmente os dois passam a noite assistindo DVDs e comendo pizza com coca-cola. (Na verdade não é nada disso – aposto que fazem as maiores loucuras, e é a minha mente grisalha que procura se consolar, vendo uvas verdes na parreira de Baco que eles desfrutam.)

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