sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

3110) O vírus de McAfee (15.2.2013)



(John McAfee, em foto de Brian Finke)

Desde o ano passado leio notícias sobre as tribulações de John McAfee. Para quem não está ligando o nome à pessoa, ele é o criador do antivírus McAfee, que a maioria de nós já teve ou tem em seu computador. 

De tanto ver seu nome no noticiário (envolvido em crimes, drogas, tiroteios, perseguições, etc.) foi com curiosidade um ponto acima do normal que fui ler a matéria sobre ele na revista Wired de dezembro (http://bit.ly/WBS2dm).

McAfee é o que em Campina a gente chama “um pertubado” (atenção, revisão, é com um R a menos). 

Um “pertubado” é um sujeito que não consegue parar quieto num canto, que parece ter um pequenino alien roendo suas entranhas. Um cara que faz tudo certo e de repente bota tudo a perder com uma gigantesca mancada, que se mete em complicações todos os dias, que faz besteira, que às vezes é agressivo, violento ou criminoso; que não encontra paz em si mesmo nem deixa em paz que está à sua volta. E alguns pertubados são inteligentes.

McAfee era um programador que inventou um antivírus, ficou milionário, entupiu-se de drogas de todo tipo, pirou, teve surtos paranóicos que continuam a atormentá-lo. 

Com uma fortuna de 100 milhões de dólares, refugiou-se em Belize, na América Central, onde foi há pouco acusado de estar fabricando metanfetamina e de matar a tiros um vizinho que envenenou seus cachorros. 

A matéria da Wired (assinada por Joshua Davis) o mostra cercado de guarda-costas, praticando roleta russa, alimentando-se de enlatados e refrigerantes, namorando meninas adolescentes (ele diz: “Quanto mais feia a mulher, melhor o sexo com ela”). Seus delírios mirabolantes (ele é do tipo que resolve qualquer problema metendo a mão no bolso e gastando) e a crise de 2008 consumiram quase todo seu dinheiro.

McAfee é o tipo “rico excêntrico” gerado a partir do mundo internético. São diferentes dos burgueses de limusine, dos yuppies de Wall Street, dos burocratas ricos do mero capitalismo financeiro, porque são indivíduos que criaram algo concreto e difícil. Têm inteligência excepcional, e gostam de viver no fio da navalha. Têm algo de nerd, algo de pirata, algo de rei maluco. 

São os equivalentes, em nossa era, a Kurtz, a Rimbaud, a Aguirre e a Fitzcarraldo. Numa entrevista recente (http://bit.ly/XtiGWq), McAfee afirmou: 

“Não adianta estocar dinheiro. Dinheiro não é algo que você possui. O dinheiro quer fluir através de você, ele é o fluxo livre de energia, ou de capital. É como o sexo. Ele precisa fluir.” 

A sabedoria desses caras, que parecem personagens de Philip K. Dick, é “só de experiências feita”, e eu presto mais atenção nas falas deles do que nas de qualquer PhD formado em Yale ou em Oxford.