domingo, 18 de setembro de 2022

4864) "No País da Poesia Popular" (18.9.2022)



Começam hoje, domingo dia 18, as exibições do segundo episódio da série No País da Poesia Popular, no canal “Cine Brasil TV”. O Episódio 2, “História do Romanceiro Nordestino”,  será exibido nestes horários:
 
Domingo, 18 de setembro – 22:30
Terça, 20 de setembro – 22:00
Quinta, 22 de setembro – 23:30
Sexta, 23 de setembro – 11:30
Segunda, 26 de setembro – 19:30
Quarta, 28 de setembro – 13:00
 
A série, dirigida por José Araripe, e na qual sou roteirista e apresentador, é uma produção da “Truque”, de Salvador, e foi gravada em 2019. A pandemia e o resultante pandemônio encalharam por algum tempo a finalização, mas agora os 13 episódios de meia hora serão exibidos aos poucos no Cine Brasil TV.

COMO ACESSAR:
Aqui no saite do canal Cine Brasil TV é possível checar quais as operadoras:
 
https://www.cinebrasil.tv/index.php/localize-o-canal
 
O primeiro impulso de inspiração para esta série surgiu no longínquo ano de 1977, quando eu e Araripe nos conhecemos, fazendo parte do grupo Teatro Livre da Bahia, dirigido por João Augusto, no Teatro Vila Velha, de Salvador. Fizemos como atores inúmeras peças de teatro-de-rua inspiradas em folhetos de cordel como “A Briga do Fiscal com a Fateira” ou “A Chegada de Lampião no Inferno”.
 
Depois, parte desse material foi transposta por João Augusto para o espetáculo Oxente Gente, Cordel que fez várias temporadas em Salvador, e viajou no saudoso “Projeto Mambembão” para Rio, São Paulo e Brasília. Lembro também com saudade que fazia parte desse grupo o meu parceiro Zelito Miranda, outro maluco por cantoria de viola. Falecido no mês passado na Bahia, Zelito formava comigo na peça uma dupla de cantadores hilária, caricatural.


(BT e Zelito Miranda, em Oxente Gente, Cordel, Salvador, 1978)

 
Ou seja, já naquela época líamos e discutíamos ardorosamente a poesia popular. E herdamos um pouco do espírito meio anárquico e desafiador de João Augusto. Ele nos dizia o tempo todo que o cordel não estava morto, nem sequer doente; que a poesia popular não era uma coisa pura, trancada numa redoma de vidro, era uma força viva que morre e ressuscita um milhão de vezes por dia.
 
O programa No País da Poesia Popular começou a ser gravado em setembro de 2019, quando passei uma semana em Salvador. Araripe e sua equipe viajaram depois pelo Rio, São Paulo, Ceará, Paraíba e Pernambuco, num total de 17 cidades com 50 entrevistados.
 
É muito pouco, na verdade, diante das dezenas de milhares de poetas profissionais que atuam principalmente no Nordeste: folheteiros, editores, violeiros, emboladores de coco, aboiadores... Toda vez que a gente faz um trabalho tipo documentário sobre um assunto tão rico eu me lembro do comediante Zero Mostel, que queria vender uma casa e andava com um tijolo na bolsa, para servir de amostra.


(Bule-Bule, Bahia)
 

O meio acadêmico discute exaustivamente o que pode e o que não pode ser chamado de “poesia popular”. Uma discussão muito necessária. A Arte Da Palavra se manifesta de maneiras diferentes no hai-kai japonês, no soneto italiano, na rapsódia grega, no concretismo paulista, no surrealismo francês, nas trovas provençais, no rap urbano contemporâneo, no poema modernista... (E reparem, nem estou tocando na prosa, porque se entrar por aí a gente amanhece o dia.)
 
E se manifesta nas formas que a gente cultiva no Nordeste: o folheto de cordel, a cantoria de viola, o poema matuto, a mesa de glosa, o romance cantado, o aboio, o coco de embolada, e por aí vai.


[Mocinha de Passira)

 
Um pouco disto vai registrado nestes programas, cuja exibição começa com os 3 primeiros em setembro, e irá se estendendo pelos meses seguintes:
 
Episódio 01 - O Folheto e o Repente
Episódio 02 - História do Romanceiro Nordestino
Episódio 03 - O Jornal do Sertão
Episódio 04 - Quando os Bichos Eram Gente
Episódio 05 - Histórias de Amor e Sofrimento
Episódio 06 - A Fantasia Heróica
Episódio 07 - As Novelas e os Romances Clássicos
Episódio 08 - Incrível, Fantástico, Extraordinário
Episódio 09 - Os Bons, os Maus e os Feios
Episódio 10 - A Mulher no Cordel
Episódio 11 - Utilidade Pública
Episódio 12 - Humor e Sátira
Episódio 13 - Cordel e Ficção Científica



(programação do primeiro mês)
 

Todo mundo vai dizer: “Eita, faltou isso, faltou aquilo, faltou Fulano, faltou Sicrano”. E geralmente vai ter razão. Me lembro de uma vez que eu estava em Areia (PB) almoçando num bar e vendo no Globo Esporte uma matéria interessante sobre grandes batedores de pênalti do futebol brasileiro: Pinheiro, Pelé, Zico, Roberto Dinamite... Quando a matéria terminou, um bêbo no balcão cuspiu de lado e disse: “Se não falou em Luís Garapeiro, não disse nada.” E quem sou eu pra discutir? Eu vi ao vivo Luís Garapeiro batendo pênalti.



(Lirinha, São Paulo)

 
Toda esta lenga-lenga é para dizer que a poesia popular não é um panteão com uma dúzia de ídolos obrigatórios e mais nada. O programa procurou inclusive mostrar pessoas que dificilmente seriam mostradas num programa “A História da Literatura de Cordel”. Aqui estão amigos meus que são músicos, cantores, compositores, que devem muito à poesia popular, cada qual ao seu modo: Lenine, Numa Ciro, Antonio Nóbrega, Beto Brito, Lirinha, os irmãos Marinho... No Nordeste, pelo menos, poesia popular e música popular são vizinhos de porta.



(Felipe Canário, Campina Grande)


A possibilidade de uma segunda temporada é algo sempre em aberto, para séries de TV. Tudo que a gente não consegue enfiar na mala, deixa para procurar no ano que vem. Falei lá em cima a história do tijolo, representando uma casa. É mais ou menos isso. É um oceano. Você vai lá, e traz uma garrafa cheia, como amostra.


 
(Arievaldo Viana, Fortaleza, in memoriam)