terça-feira, 5 de janeiro de 2016

4015) Livros do ano 5 (5.1.2016)



Eu não vivo pesquisando a literatura sobre o Sertão e suas variantes (Cariri, Pajeú, etc.), mas ela não para de me chegar de todos os lados. Fala-se que basta ler Euclides da Cunha ou Guimarães Rosa para saber o que é o Sertão. Não basta. O ponto de vista de um autor é só o dele, por mais rica que seja sua experiência. Nenhum grande autor esgota um assunto; seus livros são o que se chama de “condições necessárias mas não suficientes”. O Sertão (qualquer tema, aliás) é um bufê self-service. Não adianta ficar se servindo de um prato só, por mais bem feito que seja.

Dou o exemplo curioso de dois irmãos escritores com a mesma origem e vivências semelhantes, com dois livros diferentíssimos e complementares que li este ano. Cariris Velhos (2008, http://tinyurl.com/n3sjqlm), de Pedro Nunes Filho, é uma obra de história cultural onde a memória da terra ganha discernimento e foco por meio da pesquisa sobre a colonização desta região da Paraíba. Já No Sertão Onde Eu Vivia (2014, http://tinyurl.com/lf8kguo) de Zelito Nunes é uma recolha de anedotas e episódios pitorescos onde brota o jeito de pensar sertanejo – caririzeiro, pajeuzeiro, etc., porque são tudo cores da mesma luz.

O Sertão, para um urbanóide como eu, é precedido pelas histórias que se contam sobre ele, e que são as roupas com que ele se traja para ser visto em público. Histórias como as assombrações de Maldito Sertão (2012, http://tinyurl.com/ntbp8nv) de Márcio Benjamin, as histórias de fantasmas, coisas ruins, feitiços, criaturas da noite. Ou como os encantamentos de O Monstro das Sete Bocas (2015, http://tinyurl.com/mefb9x7) de minha irmã Clotilde Tavares, onde se misturam lendas orais, enredos de cordel ou de Trancoso, numa cadeia de narrativas-dentro-de-narrativas, com personagens que viram narradores.

O lado cruel do Sertão se revela em livros como O Dragão (reedição de 1999, http://tinyurl.com/pgfeadc) de José Alcides Pinto, um apocalipse a prestação, contando a vida de um povoado lá no calcanhar das botas de Judas, fustigado pela seca, pelas enchentes, pelas epidemias, pela violência onipresente entre pessoas crestadas por um sol indiferente e alucinógeno. É o Sertão mitológico de Euclides e de Rosa, aquele onde “a luz assassinava demais”.

Para entendê-lo, pode ser útil a leitura da obra e da vida do inventor do cordel nordestino, em Leandro Gomes de Barros - Vida e Obra (2015, http://tinyurl.com/kpbag9b) de Arievaldo Vianna. Os cordéis de Leandro são o Sertão, mesmo quando ele fala dos Pares de França ou da carestia recifense. Para ver o Sertão é preciso ser capaz de olhar para a cidade com os olhos do Sertão, e vice-versa. (Continua)




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