O pessoal me cobra às vezes uma cobertura da literatura nacional, nesta Coluna Prestes. (Chamo-a assim porque é uma coluna que está sempre prestes a dizer alguma coisa importante, promessa eternamente adiada para um futuro ainda fora de foco.) Lamento informar (ou melhor, regozijo-me em informar) que não sinto a menor obrigação de vigiar daqui a literatura brasileira, ou paraibana, ou japonesa. Quando não estou sendo pago para ler algo (resenhas, traduções, prefácios, pesquisas, etc.) leio por prazer, e por prazer somente. Se um livro não me prende, pode ser do meu melhor amigo ou do autor mais célebre do cânone: volta pra estante, e pego outro. Sou um homem livre para decidir o que vou ler. É só nisso que sou livre; é certamente pouco; e para mim é o bastante.
O
mundo está cheio de poetas que não gostam de ler poesia. Não é o meu caso.
Minha dificuldade é que frequentemente não entendo os poemas, ou melhor,
consigo acompanhar o que dizem, mas o texto não me produz novas sinapses. Não é
culpa minha nem do poema, é que a experiência poética requer um mesmo diapasão,
uma sintonia vibratória, que muita gente, aliás, não sente com o que eu próprio
escrevo. Paciência; é do jogo.
Em
todo caso, li (em alguns casos, reli) este ano, com prazer e proveito, livros
como Por sobre as cabeças (João Andrade), 100 repentes memoráveis (Jomaci
Dantas), Mini Sertão (Nonato Gurgel), Da preguiça como método de trabalho e Canções (Mario Quintana), Até nenhum lugar (Ademir Assunção), O mapa da
tribo (Salgado Maranhão), Nômada e Experiências Extraordinárias (Rodrigo Garcia
Lopes), Versos Pornográficos (Chico César), Outro (Augusto de Campos), Sonetos
de Campos, Sonetos de Moraes e Critica Syllyrica (Glauco Mattoso), Cabeça
de José (Patricia Galelli), Sociedade Vertical (Caco Pontes), Cavalo Alazão (Pedro Nunes Filho), Muito antes da meia noite (Cristiano Ramos), Compêndio
para uso dos pássaros (Manoel de Barros), Pelos pelos (Alice Ruiz), Esculturas
fluidas (João Paulo Parisio).
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