Pergunta-se muito às pessoas “qual é o seu livro de cabeceira”, supondo com isto que cada pessoa mantém um livro junto à cama para se aconselhar naquele aconchego de pré-dormida, ou durante as horas de insônia.
Livro de cabeceira implica livro favorito, livro companheiro-de-todas-as-horas, mas que, como qualquer companhia de todas as horas, ganha uma importância especial nas horas em que tudo está bem, tudo está em paz, a família ressona, a cidade descansa, as contas estão pagas, “governo e oposição estão sem assunto” (como dizia Guilherme de Figueiredo), o mundo inteiro está adormecido... e para acontecer o “plin!” da perfeição a gente precisa apenas estender o braço, e apanhar o Livro de Cabeceira. Qual é o seu?
Eu não tenho, ou
melhor, tenho junto da minha cama um movelzinho de madeira com duas fileiras de
volumes. A última vez que contei, eram vinte e sete.
Ali tem principalmente livros recentes que ainda estão sendo examinados pra ver se dão um caldo, livros de amigos, livros divididos em unidades menores (poesia, contos, artigos, variedades, fragmentos) que vou lendo ao ritmo de uma unidade por semana.
Não existe O Livro Especial, e muitos que ali estão são livros de releitura, volumes de contos ou de poemas que já li dez vezes, mas a última delas foi quinze anos atrás. Em verdade vos digo: a gente só pode dizer que conhece um livro quando o lê pelo menos duas vezes.
Ali tem principalmente livros recentes que ainda estão sendo examinados pra ver se dão um caldo, livros de amigos, livros divididos em unidades menores (poesia, contos, artigos, variedades, fragmentos) que vou lendo ao ritmo de uma unidade por semana.
Não existe O Livro Especial, e muitos que ali estão são livros de releitura, volumes de contos ou de poemas que já li dez vezes, mas a última delas foi quinze anos atrás. Em verdade vos digo: a gente só pode dizer que conhece um livro quando o lê pelo menos duas vezes.
O “pobrema” de
ler na cama não é mental nem bibliográfico, é físico. Primeiro, a posição. Tudo
que a Inquisição Espanhola vem fazendo à minha coluna nos últimos vinte anos
não se deve às minhas piadinhas de herege, e sim ao costume de ler deitado.
Os médicos já insistiram: “Ponha travesseiros, sente em forma de L (tronco ereto, pernas esticadas). Não leia na horizontal com os travesseiros forçando seu pescoço para cima”. Disseram, mas não adiantou, foi como se eu telegrafasse hoje para John Lennon pedindo-lhe que não desse autógrafo a ninguém quando chegasse em casa tarde da noite.
Os médicos já insistiram: “Ponha travesseiros, sente em forma de L (tronco ereto, pernas esticadas). Não leia na horizontal com os travesseiros forçando seu pescoço para cima”. Disseram, mas não adiantou, foi como se eu telegrafasse hoje para John Lennon pedindo-lhe que não desse autógrafo a ninguém quando chegasse em casa tarde da noite.
Sem contar o maior problema de todos, resumido por Millôr Fernandes num versinho que trago decorado desde a infância:
Ler na cama
é uma difícil operação.
Me viro e me reviro
e não encontro posição.
Mas, se afinal encontro um cômodo abandono...
pego no sono.
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