quinta-feira, 8 de julho de 2010

2249) Joel Santana (23.5.2010)



O Globo tem feito a cada domingo, no Caderno de Esportes, entrevistas com figuras notáveis do futebol brasileiro: já teve Romário, teve Lúcio (da Seleção), e domingo passado teve o técnico Joel Santana. Os quatro clubes grandes do Rio (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo) deviam se juntar, fazer uma vaquinha e mandar botar uma estátua para Joel diante do Maracanã. Ele é o único técnico que já foi campeão carioca por todos quatro, e não sei quantas décadas vão se passar até que outro treinador repita a façanha.

Joel pertence ao universo de técnicos ex-boleiros, que é diferente dos técnicos formados em Faculdade (de Educação Física ou equivalente), cheios de informação livresca e de teorias. Nada contra nenhum dos dois; mas o fato é que são tribos diferentes forçadas a conviver. São como as tribos dos jornalistas formados nas redações e dos jornalistas formados nas faculdades. Ou como os músicos que aprenderam tocando de ouvido em bar, em batucadas e em clubes, e os músicos que tocaram em banda ou estudaram em escola de música. Por aí.

Joel Santana já fez mágicas no futebol. Nos últimos anos, salvou duas vezes o Flamengo de um rebaixamento que parecia certo. Joel fez como aqueles bombeiros que chegam num poço onde caiu uma criança: desceu lá no fundo sem corda, com as mãos nuas, e trouxe o Flamengo de volta. Este ano, chegou ao Botafogo depois que este tinha levado uma sapatada de 6x0 do Vasco. O Fogo estava parecendo um zumbi de George Romero, morto e andando, meramente à espera do tiro de “doze” nos miolos. Joel arrumou o time, deu uma surra no Flamengo, uma surra no Vasco, outra surra no Flamengo, e foi por aí até ser campeão.

Na entrevista, ele mostra mais uma vez seu estilo descontraído e criativo. Os jornalistas adoram Joel porque sabem que bastam dez minutos de papo com ele para chegar na redação com a matéria armada e a manchete pronta. Joel é uma figura de bem com a vida: “Aprendi a tratar bem quem me trata bem, e ignorar quem me trata mal”. Está se especializando em roubadas, como ser técnico da África do Sul, onde ficou até ser demitido por maus resultados: “Lembro-me de 2004, no Vasco. Contra o Atlético-PR, líder do Campeonato, em São Januário, tendo que ganhar. No fim, o juiz apitou, corri para o vestiário, liguei a ducha gelada sobre a cabeça e pensei: Outra dessa não pego nunca mais. No ano seguinte, estava na mesma situação no Flamengo”.

Hoje em dia enche-se muito a bola do técnico, que passa a ser tratado como o maestro de uma orquestra. Quem sabe o nome dos músicos da Sinfônica? Só as famílias deles, mas todo mundo sabe o nome do maestro. O futebol pode acabar assim, mas a culpa não é de técnicos como Joel. Esquema técnico, para ele, é uma coisa; ambiente é outra. Joel é até defensivo demais pro meu gosto, mas consegue criar por onde passa um ambiente de lealdade recíproca, de motivação competitiva sem excesso de brucutulose, de gosto pelo jogo bem jogado. É o Rei do Rio.

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