quinta-feira, 8 de julho de 2010
2245) “Os EUA vs John Lennon” (19.5.2010)
Este documentário foi escrito e dirigido por David Leaf e John Scheinfeld (autores de numerosos filmes de TV sobre artistas como Sinatra, James Brown, Brian Wilson, etc.). Os filmes sobre Lennon e os Beatles, até hoje, são centenas. Este aqui concentra-se no ativismo político de Lennon e Yoko Ono, principalmente depois que os dois se mudaram para Nova York e se envolveram com os movimentos de protesto contra o racismo e contra a guerra do Vetnam. O filme não traz revelações bombásticas. No máximo, traz, para quem acompanhou a história pelos jornais há trinta anos, detalhes curiosos. Um deles era o fato de que todo o processo de deportar Lennon por causa de uma prisão (por parte de maconha) que tivera na Inglaterra era algo absolutamente insólito nos EUA. Uma aberração processual, cuja única explicação só podia ser esta: era ordem pessoal do Presidente Nixon.
Lennon sempre foi o mais sincero e polêmico dos Beatles, e, por conta disso, sempre se meteu em brigas desnecessárias por ser mal interpretado. O filme documenta a campanha anti-Beatles desencadeada pelos fundamentalistas norte-americanos após a famosa frase “somos mais populares do que Jesus Cristo”. Lennon era contraditório porque dizia exatamente o que estava pensando. Se um mês depois mudasse de idéia, mudava de discurso – mas nunca de atitude. Tudo nele era envolvimento total, compromisso real e sincero com as próprias emoções, com seu senso íntimo do que era certo e do que era errado. Cometeu numerosos erros táticos a vida inteira, mas nunca foi “fake”, nunca foi “phony”, nunca falou o que não pensava para agradar a quem quer que fosse.
Isto lhe valeu uma gigantesca perseguição movida pela quadrilha de Richard Nixon. O termo “quadrilha” fica plenamente justificado quando vemos, neste filme, entrevistas de personagens como Gordon Liddy e outros que foram derrubados pelo escândalo de Watergate, botando banca e dizendo para a câmara como John Lennon deveria se comportar. O filme é claramente pró-Lennon, e reforça ainda mais a minha impressão de que Nixon foi um gangster de segunda classe, um político ao nível de Saddam Hussein – com a única diferença de que nunca matou ninguém com as próprias mãos; apenas liberava a polícia para atirar em estudantes e Panteras Negras. Tinha estofo político e mental para ser, no máximo, presidente de países como Romênia ou Albânia. Que tenha chegado a presidir os EUA é mais uma prova melancólica de como a democracia é uma casa que dorme de janelas abertas.
No mais, é bom reencontrar a ironia ferina de Lennon em suas entrevistas. “Os conservadores comemoram porque há um processo de expulsão contra nós,” diz ele, “e os liberais comemoram porque estamos interpondo recursos e prolongando nossa estadia. Beleza, todo mundo está feliz!” No fim, perguntado se guardava rancor dos que o perseguiram, ele troca os termos do clichê e diz: “Time wounds all heals”, algo como: “O tempo fere todas as curas”.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário