quinta-feira, 3 de junho de 2010
2106) Ronaldo é o nosso rei! (8.12.2009)
Quiseram os deuses do futebol que o Flamengo fosse campeão brasileiro com um gol de Ronaldo. Não o Ronaldo Fenômeno que os rubro-negros cortejaram e bajularam durante tanto tempo, e que acabou esnobando a Gávea para ir jogar no Corinthians – mas o Ronaldo Angelim que há quatro anos carrega um piano enorme ali na zaga. É titular absoluto e dá uma média de uma entrevista por ano. De domingo para cá, conversou com mais repórteres do que em toda sua carreira. É um zagueiro magro, alto, com cara de nordestino (é paulista de nascimento, criado no Ceará): poderia passar como filho de Dominguinhos. Meses atrás, ao sair de uma sessão de um filme em homenagem ao Flamengo, confessou com simplicidade que era a primeira vez que tinha entrado num cinema, que tinha gostado muito e pretendia ir de novo. É o contrário do seu xará famoso, rico, paparicado, rodeado de “paparazzi” e de aspones.
Se o gol do título foi de Angelim, o comandante do título foi Andrade, o popular “Tromba”, ex-boleiro, o oposto dos nossos técnicos metidos a besta que vão de terno Armani para a boca do túnel. O oposto também dos técnicos arrogantes, sargentões, falastrões, cujo discurso é cheio de “eu fiz isso, eu fiz aquilo”, técnicos cuja relativa competência acaba obscurecida pela egolatria em que vivem mergulhados, contando para isto com o servilismo da própria imprensa de futebol. Os técnicos brasileiros são a tradução viva do discurso “eu ganhei, tu empataste, eles perderam”.
Torcedores de outros clubes estão se queixando de que o Flamengo não mereceu ser campeão. Quem mais diz isto são os do Palmeiras, que foi líder por 19 rodadas. O Flamengo teve um primeiro turno razoável, várias derrotas inexplicáveis, mas depois da entrada de Andrade como técnico, e da chegada de outros jogadores (Petkovic, Álvaro, Maldonado) o time se reequilibrou. Conseguiu inclusive compensar a saída de jogadores importantes das campanhas anteriores (Ibson, Fábio Luciano) e a queda de produção de outros (Léo Moura, Juan). Mereceu ser campeão. Por que não? Não me lembro de nenhuma partida que o Fla tenha vencido em circunstâncias suspeitas ou com gols irregulares.
Foi, como disse uma parte pequena da imprensa, um campeonato tecnicamente fraco, o que pode ser comprovado pela assustadora queda de produção de times como o Atlético Mineiro, o Palmeiras, o São Paulo, times que em algum momento tiveram tudo para manter-se no topo e não conseguiram. O Flamengo teve atuações consistentes ao longo destes últimos meses. Derrotou São Paulo e Palmeiras em São Paulo, derrotou o Atlético em Belo Horizonte, teve um dos artilheiros do campeonato. Não jogou bem nos últimos quatro jogos, mas jogou o suficiente para fazer os placares de que precisava. Os craques-símbolo da campanha são (merecidamente) Adriano e Petkovic, mas para mim este será sempre o título conquistado com um gol do verdadeiro Ronaldo do Flamengo.
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