A abreviatura tradicional para “science fiction” é SF. Indico de saída o termo inglês porque foi nos EUA que essa literatura, antes dispersa em obras individuais, transformou-se, por força do ímpeto comercializador dos norte-americanos, em gênero literário.
É bem verdade que na Grã-Bretanha usava-se o termo “scientific romance” para designar obras como as de Julio Verne, H. G. Wells e outros. Mas o que colou, pra variar, foi o termo norte-americano, que aqui em português acabamos traduzindo como “ficção científica”.
Este termo, aliás, traduz a rigor a expressão parecida “scientific fiction”. “Ficção ciência” seria a tradução mais ao pé da letra.
Uma palavra bem mais rica de conotações seria a designação italiana para o gênero: “fantascienza”, que em português daria “fantasciência”, fazendo uma correta alusão ao elemento de fantástico ou de fantasia que permeia o gênero.
Em alemão existe um termo igualmente adequado do ponto de vista semântico: “Wissenschaftlich-phantastische Erzählung”, ou “narrativa científico-fantástica”. Mas quem seria capaz de utilizar um semelhante escolopendro na linguagem cotidiana? Usa-se a siglazinha FC, e estamos conversados.
Assim como serve para designar “ficção científica”, FC serviria também para indicar um outro rótulo igualmente aplicável ao gênero: Fantasia Cartesiana. Não imagino que este termo venha a suplantar o já consagrado, mas como alusão à ciência moderna ele me parece insuperável.
Poderíamos dizer, para justificá-lo, que o lema da Fantasia Cartesiana é: “Penso, logo existe”. Se eu penso em alguma coisa, ela torna-se real no plano do pensamento. Os pensamentos que ocorrem numa mente humana são tão reais quando os objetos físicos – eis um postulado capaz de ser aprovado tanto pelos Materialistas Empedernidos quando pelos Idealistas Radicais.
Tudo que se passa em nossa mente atinge um nível inicial de realidade; se é registrado por algum meio de expressão (fala, escrita, representação visual), sobe a um patamar mais alto de realidade; se é captado por outras consciências e se propaga, atinge um patamar mais alto ainda. Torna-se mais real. Existe com mais intensidade.
Além do mais, lembremo-nos de que foi Descartes quem concebeu a arte de, com um eixo de coordenadas numéricas (as famosas “ordenadas” e “abscissas”), criar uma equivalência entre grandezas aritméticas e formas geométricas – entre o digital e o analógico, portanto. (Ver artigo “A cruz de Descartes”, 5.11.2003.)
Uma equação do 1o. grau é uma linha reta; uma de 2o. grau é uma parábola. Cada intersecção entre um “x” e uma “função de x” determina um ponto que se torna um átomo de uma imagem. Podemos gerar imagens a partir de dados numéricos, e vice-versa.
A Fantasia Cartesiana homenageia aquele que, sem o prever, criou a base para a Computação Gráfica, os efeitos especiais e a arte eletrônica. Ele pensou. E agora, algo existe.
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