sexta-feira, 7 de março de 2008

0049) Os Beatles e o Senhor dos Anéis (18.5.2003)



Os filmes da saga O Senhor dos Anéis colocaram em evidência o nome de J. R. R. Tolkien, um carrancudo professor de Filologia em Oxford que se tornou a contragosto um dos maiores best-sellers do século 20.

Seus livros vinham tendo sucesso na Inglaterra, a partir de 1955; na década de 1960, lançados em edição de bolso nos EUA, caíram no gosto da juventude universitária norte-americana, que começava a flertar com a Contracultura, o estilo hippie, as drogas alucinógenas.

Em sua The Ultimate Beatles Encyclopedia, Bill Harry conta que em 1968 os Beatles, já tendo lançado Magical Mystery Tour, decidiram que a obra de Tolkien seria o seu próximo projeto cinematográfico.

O primeiro diretor sondado foi Stanley Kubrick, então envolvido com a finalização e o lançamento de 2001, uma Odisséia no Espaço. Kubrick não se interessou, e a seguir foi contactado Michelangelo Antonioni, que tinha causado grande impacto em Londres pouco antes, com Blow Up.

Quando os representantes dos Beatles entraram em contato com o agente literário de Tolkien, descobriram que os direitos de adaptação para o cinema já haviam sido negociados. E fica para os cinéfilos e os beatlemaníacos a conjetura sobre em que resultariam essas combinações entre os quatro músicos-atores, um clássico da literatura de fantasia, e cineastas no auge de sua criatividade.

É revelador, porém, saber os papéis que os Beatles tinham escolhido para si próprios.

Paul MacCartney decidiu ser Frodo, o portador do Anel e protagonista da história, interpretado hoje por Elijah Wood. Uma escolha óbvia para quem, com o sucesso de Sergeant Pepper´s e a morte de Brian Epstein, tinha virtualmente se tornado o líder da banda.

Ringo Starr seria Sam Gamgee, o amigo de Frodo, símbolo da lealdade (no filme de Peter Jackson, interpretado por Sean Astin).

George Harrison, em plena descoberta do misticismo oriental, não poderia ter feito uma escolha mais adequada do que o mago Gandalf (agora a cargo de Ian MacKellen).

A escolha mais curiosa é a de John Lennon, que começava a emergir da longa viagem de LSD em que esteve mergulhado a partir de 1966 e ao longo de 1967. Em Revolution in the Head, Ian MacDonald o descreve em 68 como “um destroço mental, lutando para colar de volta os próprios cacos”.

Lennon escolheu o papel de Gollum, o ser que durante séculos usou o Anel do Poder até que este lhe exauriu as forças e o transformou numa espécie de parasita monstruoso (no filme atual, Gollum foi criado através de computação gráfica).

Lennon sempre viu a si próprio como um desajustado, o que lhe dava uma auto-imagem monstruosa (“I am the walrus”) e uma constante sensação de vazio (“I´m a Loser”, “Nowhere Man”). Gollum é talvez o mais patético exemplo do Viciado na literatura contemporânea, a criatura capaz de gritar repetidamente, como Lennon: “I want yooou, I want you so baaad!... It´s driving me mad, it´s driving me mad!...”






Nenhum comentário: