(ilustração: Hundertwasser)
O planeta de Aldebarã-5 tem uma civilização influenciada pelos colonizadores terrestres. Seu vocabulário exprime as características da natureza do planeta e o seu modo de observar os fenômenos da psicologia e da cultura. Confiram os verbetes abaixo, recolhidos, meio ao acaso, do Pequeno Dicionário Interplanetário de Bolso.
“Stóleo”: certas premonições que demoram a se confirmar,
voltam a ser revisadas e reconstituídas de vez em quando, e acabam se
transformando num evento perpetuamente adiado, parte integrante da vida da
pessoa.
“Nakrunium”: grupos de leitores que se comprometem a toda
semana passar adiante um livro para o próximo da lista, e receber um livro do
membro que vem antes.
“Zarbunz”: troca
de carícias físicas, sem intenção sexual, entre pessoas que se conhecem
profundamente e querem apenas curtir a proximidade uma da outra.
“Argobann”: qualquer recipiente usado para aparar a água
que pinga de uma goteira, de uma torneira que está vazando, etc. Por extensão, pessoas compassivas que se
dispõem a escutar queixas e lamentações de alguém que precisa desabafar.
“Ablanim”: cartões metálicos redondos, cobertos por uma
película com polarização química que mantém gelados os copos de bebida
colocados sobre eles.
“Chissode”: pequenos epitáfios manuscritos,
personalizados, que os amigos deixam no túmulo de uma pessoa querida sempre que
vão visitá-lo.
“Maltomar”: diz-se da morte de certas pessoas onde nunca
se poderá saber com certeza se foi morte natural, acidente ou suicídio, e que
precisam sempre ser abordadas com um máximo de cautela e respeito.
“Raffikam”: pequenos retalhos de pano úmido que algumas
pessoas colocam na quina da mesa, durante as refeições, panos que elas pegam e
passam sobre a madeira nua da mesa para ir recolhendo os farelos de comida.
“Weruss”: o estado mental de quem, diante de um estresse
aparentemente esmagador, consegue juntar forças e manter uma atitude permanente
de que tudo está indo muito bem.
“Lodenz”: grupos de amigos que se reúnem periodicamente
para lembrar os velhos tempos, e a cada reunião fazem um depósito numa
“caixinha”, a qual deverá servir de fundo de ajuda para qualquer um que estiver
precisando.
“Fratuls”: livros
com pequenos bolsos disfarçados no interior da encadernação, que servem para
esconder documentos ou dinheiro.
“Vontersez”: minúsculos chalés que a maioria das casas de
Aldebarã tem no fundo do seu quintal ou pátio interno, e que não pode ser
ocupada pela família, devendo servir de alojamento gratuito para viajantes, que
ali se hospedam em troca de ajudar nas tarefas da casa, por um prazo limitado
de tempo.
“Conluvig”: pequenas peças de corda, em tamanhos variados,
com prendedores de metal nas duas pontas, usadas para firmar bagagens ou outras
cargas ao serem transportadas.
“Saidop”: grupos de três acontecimentos relacionados
entre si que as pessoas costumam usar como argumentos para justificar um
conceito, uma teoria, uma opinião, uma intuição aparentemente esdrúxula. Podem
variar desde associações de idéias solidamente lógicas e argumentadas até
disparates que provocam o riso.
“Orau”: cerimônia em que de tantos em tantos anos as
pessoas começam a transferir suas posses para parentes ou amigos próximos, durante
um almoço ou jantar formal, numa antecipação da herança que deixarão ao morrer.
“Arani”: a tradição de dar nomes próprios a cada objeto
da casa: pratos, talheres, cadeiras, cortinas, para que cada um deles tenha sua
individualidade e possa ser distinguido dos demais.
“Pargass”: pequenos códigos que os casais criam entre si,
em que certas palavras ou nomes de pessoas são trocados por palavras comuns,
para que eles possam conversar diante de outros sem que se perceba o verdadeiro
conteúdo do que dizem.
“Zertend”: pequenos doces esféricos à base de frutas,
envoltos em papel coloridos, que quando dados de presente a alguém devem ser
comidos na hora, endo substituídos por uma pedrinha do mesmo tamanho, para que
o presente possa ser tanto saboreado quanto guardado de lembrança.
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