(ilustração: Supranav Dash)
& poesia não tem regras que é preciso obedecer, tem hábitos que é possível mudar & já que é assim, regulamentemos a propina e incorporemos o trambique & bastaria o mundo inteiro ficar sem luz elétrica sete dias para destruir a civilização como a conhecemos & na política só existem dois objetivos: chegar ao poder, e manter-se no poder; o resto são tarefas perfunctórias e retórica tecnocrata & a Natureza foi sábia quando nos fez sem botão de autodesligamento & certas drogas dão uma aparente grandeza a quem não consegue mais crescer & vá à luta; a única coisa que cai do céu é satélite sem manutenção & a vida é feita de alegrias equivocadas e sofrimentos inúteis & tem gente que se comporta como se estivesse cercada de biógrafos autorizados & aquela extenuante sensação de viver numa vitrine iluminada em plena avenida & não me lembro a última vez em que eu abri os olhos de manhã e disse “oba!” & a vida é como o futebol, para cada gol sofrido é preciso fazer pelo menos dois & toda foto é um fotograma de um filme que se perdeu & não abra minha cabeça não, que vai ser barômetro explodindo pra todo lado & a imbecilidade chega a ser perdoável, quando desacompanhada da grosseria e da pretensão & será que uma biografia só pode escolher entre ser uma versão imposta e uma calúnia gratuita? & ricos não se contentam com animais, eles precisam de pessoas-de-estimação & e aqui estou eu de novo, entrando nas águas daquele outro rio e tomando meu último banho mais uma vez & a vida é uma fruta onde a gente é obrigado a engolir casca e caroço & o mundo fez da minha alma massa de pão & quem me dera lembrar de dez por cento dos repentes bonitos que eu ouvi & fazer um poema concreto em forma de formigueiro & o supersticioso está sempre a um passo de explodir o mundo & tem histórias que são tão inverossímeis que só podem ser verdadeiras & qualquer dia desses vai ter aplicativo de smartphone com primeiros socorros, com canivete suíço, com psicanalista & a poesia é um macaco segurando uma banana de dinamite & feliz de quem não usa a força bruta mas poderia se precisasse & a esperança é a única que move & eu sou contra o latifúndio, mas quando é preciso eu defendo o meu & é o Acaso quem distribui os destinos & o mau gosto é mais próximo do sentimental do que do distanciado, mais próximo do bonito do que do grotesco & toda verdade humana é parcial, ou não seria humana & tudo que pode servir de prova da existência do Destino pode servir também de contraprova & a gratidão é o reconhecimento de uma dívida que não precisa ser paga &
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