quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

3061) Louise Brooks (20.12.2012)






Ela foi uma das musas do cinema mudo, um dos rostos mais lindos da imagem em preto e branco.  Tinha um carisma magneticamente óbvio, dos que desencorajam reflexões.  Era uma mulher fatal diferente do estereótipo do gênero, que privilegia mulheres como Marlene Dietrich (arrogante, amarga, mas parecendo dotada de uma animalidade inesgotável, e de uma vontade inflexível), Lauren Bacall (sonsa, dissimulada, irônica, eternamente se esquivando, cercando, envolvendo, a qualquer momento desferindo uma frase arrasadora ou um sorriso pecaminoso), Ava Gardner (intensa, passional, lasciva, em busca não importa de que coisa), Catherine Deneuve (aristocrática, difícil, voluntarista, lava-sob-a-neve) e por aí vai.



Louise Brooks era diferente dessas. O rostinho era perfeito, o sorriso cativante, mas por isto mesmo não lhe davam a autoridade das poderosas e dominadoras. Era fatal por ser indomesticável, mas estava sempre oferta, sempre acessível. As fotos mostram seu rostinho em forma de coração e o cabelo curto, negro, mas é preciso ver sua imagem em movimento. Vi há pouco tempo A Caixa de Pandora de G. W. Pabst, o filme de 1924 que a fez famosa. Ela faz uma personagem equívoca, ao mesmo tempo namoradinha e “teúda e manteúda” de alguns canastrões respeitáveis do começo do século.  Com seus flertes, e suas molecagens de menina, ela os enlouquece e os manipula, agarra, solta, seduz, enxota, pede perdão, faz carinho, pede dinheiro. (Aqui, Louise ao som de Stereolab: http://bit.ly/QynwBw).



Dizem que foi nela que se inspirou Adolfo Bioy Casares para sua Faustine em A Invenção de Morel. Era incrível a multiplicidade de expressões que seu rosto e seus imprevisíveis olhos adotavam a cada segundo. Tinha ombros e braços torneados, parecendo mais nus pela cabeleira curtíssima “à la garçonne”.  Podia passar num segundo da alacridade ao desespero, e deste a um sorriso puro de gratidão. Há mulheres que são fatais por sua força, mas outras o são por alguma fraqueza, uma fragilidade que estranhamente vem acompanhada de um excesso de alegria de viver e de energia. Parecem indestrutíveis mas também nos despertam a vontade de protegê-las, como se fossem bolha de sabão nas mãos alheias.


Roger Ebert diz (http://bit.ly/8y7zLA): “Ao passar das mãos de um homem para as de outro, a única coisa que se mantém é o seu querer. Ela quer festejar, ela quer fazer amor, ela quer beber, ela quer dizer aos homens o que quer e quer consegui-lo. Não outro motivo senão seu desejo; não é por dinheiro, nem por sexo, somente por egoísmo. Poderia ser algo desagradável, mas ela faz parecer divertido”.  Seu rosto era legível como uma tela de filme mudo.


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