(Drummond jovem)
Faz muito
tempo que os czares saíram da paisagem política do mundo, e periga uma boa
parte dos jovens de hoje não terem a menor idéia do que significa essa palavra.
Ela deriva, aliás, do título de “César” que os imperadores romanos passaram a
se atribuir em homenagem a Julio César; o termo gerou “Czar” em russo e
“Kaiser” em alemão. Mas no tempo em que Carlos Drummond publicou seu primeiro
livro, Alguma Poesia, ou seja, em 1930, os czares tinham desaparecido há bem
pouco tempo, mais precisamente em 1917, quando a Revolução Russa não apenas os arrancou
do poder mas fuzilou sumariamente a família inteira, crianças inclusive. Os
czares foram no século 19 um símbolo da sofisticação e da gastança desbragada
de todos os potentados. O Museu Hermitage, em São Petersburgo, é um resíduo da
riqueza cultural patrocinada pelos czares, cujos equivalentes no mundo de hoje
seriam os xeiques de Dubai e seus palácios de mil-e-uma-noites high-tech.
Em todo caso, Drummond não se referia aos czares da Rússia,
mas aos da Bulgária, em seu poema “Anedota Búlgara”, que diz: “Era uma vez um
czar naturalista que caçava homens. / Quando lhe disseram que também se caçam
borboletas e andorinhas, / ficou muito espantado / e achou uma barbaridade”. A
Bulgária teve seus próprios czares até 1943, quando morreu o último deles,
Bóris III, que era apenas oito anos mais velho do que o próprio Drummond. Não
deve ser ele o personagem do poema, pois consta que era um bom sujeito, tendo
inclusive peitado Hitler durante a II Guerra e se recusado a permitir a
extradição de judeus.
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