Ronaldo Cunha Lima foi de uma geração de poetas boêmios, uns
com um pé na advocacia, outros com um pé no jornalismo, todos com um olho na
política. Uma geração que incluiu
Palmeira Guimarães, Raimundo Asfora, Orlando Tejo... Eu os conheci primeiro pelas histórias contadas por meu pai,
poeta boêmio de uma geração mais velha, que via essa rapaziada com admiração e
bom humor. O poeta boêmio é aquele que
não escreve pensando na Literatura Brasileira, escreve para si mesmo e para as
pessoas que o cercam. A poesia é
reflexo da vida, parte da vida, não tem sentido se lida em separado.
Esses poetas faziam sonetos impecáveis em cinco minutos,
pegando como deixa uma frase que alguém soltou na mesa do restaurante. Neste
sentido, se assemelham ao cantador repentista.
Essa geração que nomeei acima conviveu muito com os repentistas, porque
a escada que dava acesso à Rádio Borborema ficava entre o Café São Braz e a
Sorveteria Flórida, numa cidade que não existe mais, ou que a cada dia existe
menos.
Depois de adulto, eu próprio passei a conviver com Ronaldo,
que, longe da política (era um ex-prefeito cassado) vivia no Rio de Janeiro,
advogando, e doido por um pretexto para vir passar uns dias em Campina
Grande. Esse pretexto, da minha parte,
foi o Congresso de Violeiros, em cuja organização eu trabalhava, e onde Ronaldo
várias vezes fez parte do júri ou da comissão de seleção de assuntos, a convite
nosso. Fornecia motes românticos,
apaixonados, falando de amor e saudade, e que quando caíam no sorteio para uma
dupla bem inspirada induziam glosas de grande popularidade junto à platéia
feminina.
A política chamou o boêmio de volta. A política é um destino
grego ao qual não se desobedece. O que mais marcou as campanhas de Ronaldo, e
que vive até hoje na memória dos que as assistiram, foram seus discursos em
redondilha, naqueles versos simples de rimas exatas que o povo reconhece tão
prontamente, porque faz parte de nossa memória cultural. Improvisador fluente,
familiarizado com os truques dos repentistas, Ronaldo era capaz de versificar a
propósito de tudo que estivesse ao alcance do olho: o garçon que demorava, a
gravata torta de Fulano, o uísque com gelo demais, a TV ligada, o casal na mesa
vizinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário