segunda-feira, 14 de junho de 2010

2151) Jesse Dylan e a Internet (29.1.2010)



(Jesse Dylan)

A revista eletrônica Edge colocou para dezenas de cientistas, pensadores, artistas, personalidades públicas em geral a pergunta: “De que modo a Internet modificou sua maneira de pensar?” Um dos entrevistados foi o cineasta Jesse Dylan, fundador da Lybba, uma organização cujo objetivo é manter uma rede interligada de informações sobre medicina, cruzando dados fornecidos por médicos, pacientes e pesquisadores, e contribuindo para o avanço na cura de variadas doenças. Jesse, nascido em 1966, é o filho mais velho do cantor Bob Dylan, e trabalhou intensamente nos batalhões informáticos da campanha presidencial de Barack Obama.

Para Jesse (http://www.edge.org/q2010/q10_16.html), a grande mudança provocada pela Internet foi “uma troca descentralizada de informações”, e o principal resultado disso é que “novas idéias podem surgir, literalmente, de qualquer lugar”. Para ele, “neste exato momento um garoto pode estar recebendo e manipulando dados do Grande Colisor de Partículas na Suíça, ou pode estar procurando sinais de vida extra-terrestre com o projeto SETI. Qualquer pessoa pode fazer a próxima descoberta que vai mudar o mundo. Esta é a principal virtude da Internet”.

Alguém poderá dizer que nenhum garoto virou Einstein até agora, mas a resposta mais sensata é de que o processo mal começou. A quantidade de dados que produzimos hoje em dia está muito além da nossa capacidade de exame. Ou esse exame é aberto a um número maior de pessoas interessadas (e com um mínimo de conhecimento para poder fazer avaliações novas, ou pelo menos propor hipóteses novas) ou de nada adianta ficar elevando ao quadrado nosso poder de computação.

“Eu vejo a mim mesmo e a outras pessoas”, diz Jesse, “como canais de informação através dos quais está se filtrando toda a escala da experiência humana. Quando eu era garoto, aprendia as coisas observando o mundo e lendo livros. O conhecimento que eu ambicionava estava escondido de mim. Muitas coisas eram secretas ou inacessíveis. Na minha juventude, era precisar cavar muito fundo e explorar bastante para poder encontrar o que estava procurando, e muitas vezes o que eu procurava estava além do meu alcance. Para ir dos livros de Jack Kerouac até os discos de Hank Williams e dali para a escala pentatônica era uma enorme travessia. Hoje, isto pode acontecer em um instante. Dizem que os tempos antigos eram melhores do que o de hoje, mas eu discordo”.

Jesse é de uma geração que lembra do sistema antigo, e que na juventude testemunhou a criação do sistema novo. Esse entusiasmo dele se repete muito com pessoas da minha geração (cerca de 15 anos mais velhos que ele) que, além das limitações naturais do sistema, enfrentaram outra coisa: a censura do regime militar. Os maiores defensores da Internet que conheço são cinquentões que veem nela esse Paraíso que um dia julgamos impossível: informações claras e transparentes, 24 horas por dia ao alcance da mão, para quem souber procurar.

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