quinta-feira, 10 de junho de 2010
2132) Teatro em um minuto (7.1.2010)
Já falei aqui nesta coluna sobre diversos tipos de arte minimalista, desde contos com apenas seis palavras até gente que cria esculturas que só são visíveis com o auxílio de lupas. Pois o pessoal não sossega e agora me aparece com uma “nova novidade”, como dizia o saudoso Gordurinha. Trata-se do teatro de 60 segundos. Se já temos o “Festival do Filme de Um Minuto”, por que não teríamos também peças de teatro da mesma duração?
Há uma série de questões técnicas envolvidas. Para fazer um filme de um minuto, uma equipe se reúne, filma, depois o filme é editado, e dele tiram-se dezenas de cópias que vão correr mundo. Para montar uma peça de um minuto, seria preciso que todas as noites o grupo de atores saísse de casa, fosse para o teatro, se preparasse, subisse ao palco e saísse dali um minuto depois.
Vai daí que o conceito de “teatro de um minuto” sugere mais uma mostra coletiva do que a exibição de uma obra isolada. Não é outra coisa o que Steve Ansell vem fazendo há alguns anos: ele organiza um Festival chamado “Gi60”, que ocorre simultaneamente na Inglaterra (num teatro em Yorkshire) e nos EUA (Brooklyn College, Nova York, onde está a cargo de Rose Bonczek).
O Festival abre inscrições para os textos, que quando classificados são dirigidos por Ansell e apresentados por um elenco fixo de atores. Com 50 peças numa noite, dá para compor um programa de duração razoável.
Chamar um minuto de teatro de “peça” é forçar um pouco o conceito; talvez fosse melhor dizer que se trata de “cenas” de um minuto, porque peça pressupõe um certo desenvolvimento, uma mudança de situações ao longo do tempo, aquilo que os manuais chamam de “arco narrativo”. Em um minuto é impossível contar uma história complexa (a não ser através da caricatura, do exagero, da perda de profundidade psicológica).
Por outro lado, é possível criar cena isoladas que teriam com uma peça a mesma relação que um cartum tem com uma história em quadrinhos. O cartum é uma história de um quadrinho só. O bom cartum nos proporciona, com uma imagem única, não apenas ver uma cena em sua totalidade, mas inferir um passado e um futuro que ela deixa subentendidos. Teatro pode fazer o mesmo.
Por força das circunstâncias, as peças do Gi60 são montadas na base do cenário único, atores de jeans e camiseta, ou seja, um mínimo de recursos externos. São o teatro reduzido a palco, ator e texto, ou, como dizia Shakespeare, “quatro tábuas e uma paixão”. Há monólogos, há duetos, há encenações em grupos maiores. Nenhuma peça tem exatamente um minuto; ficam todas entre um e dois minutos, o que é razoável, pois não há como minutar previamente um texto que vai ser dito e interpretado.
As pecinhas do Gi60 estão disponíveis no YouTube, basta pesquisar “Gi60”. Todas em inglês sem legendas, mas fica até melhor para captar “a dinâmica teatral” do que acontece; em muitos casos daria para entender tudo mesmo que fosse em polonês.
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