terça-feira, 25 de maio de 2010

2073) U-2 no YouTube (30.10.2009)



Era mais de meia-noite; dei uma olhada no Facebook e havia este post lacônico de uma amiga minha: “Fazendo hora para ver o show do U-2 ao vivo pelo YouTube”. Pensei que era uma brincadeira movida a trocadilho, mas havia um link, e fui lá. Abri a página, cliquei no link do streaming e fiquei no aguardo. Daí a pouco surgiram na tela Bono, The Edge e os outros descendo da van, do lado de fora do estádio, sendo recebidos por uma equipe de segurança... Tudo isso intercalado com imagens do interior do estádio, uma multidão indócil e bem-humorada. A imagem em alta definição era de tal natureza que se houvesse algum amigo meu na platéia eu poderia reconhecê-lo quando a grua passava em voo rasante por cima da turba.

Resumindo: das 2 às 4 da manhã assisti o show do U-2 em tempo real no Rose Bowl californiano, o mesmo estádio onde o Brasil foi campeão em 94 quando Baggio chutou o pênalte por cima da trave de Taffarel. E vi com uma imagem muito melhor do que a da TV da minha sala, logo eu que uso um monitor LG bem furreca; e um som que (graças aos fones de ouvido) eu pude botar bem alto sem inquietar o sono dos vizinhos, e curtir uma reprodução com ótima nitidez, permitindo-me escutar os harmônicos sutis da guitarra de The Edge e as complicadas e firmes linhas-de-baixo de Adam Clayton.

O cenário gigantesco foi chamado pelos seus criadores de A Garra (The Claw) mas Bono o chamou de A Estação Espacial (confira aqui essa beleza arquitetônica, coleguinha: http://tinyurl.com/yghz75o). Antigamente, se a gente desse 10 passos prum lado, perdia o som, perdia o retorno, perdia tudo. Hoje, o U-2 se espalha ao longo de passarelas, os membros da banda chegam a ficar 100m de distância um do outro e tudo flui. A tecnologia expande a platéia globo afora, espalha a banda por um perímetro impensável.

Os mais blasés farão um muxoxo e dirão: ora, amigo, então nunca viste um show ao vivo? Direi que sim, inclusive do próprio U-2 quanto tocou em São Paulo. Mas uma coisa é ver um show que está sendo retransmitido pela TV aberta para todo o país, algo a que é quase impossível fugir, crivado de comerciais chatos. Mas um show no YouTube necessita de um ato de volição, de uma decisão de procurá-lo, acessá-lo, assisti-lo. Torna-se algo mais intensamente coletivo justamente por ser seletivo. Naquele instante, eu não estava compartilhando meu prazer com 50 milhões de desinformados bocejantes. Quem estava ligado ali, no mundo inteiro, é porque gostava da banda. Egoísmo? Elitismo? Acho que não. Apenas um esprit-de-corps meio cineclubístico, de quem diz: “Somos só nós, alguns milhões de nós, vendo o que nós gostamos”. Variedade de oferta e possibilidade de opção são o lado bom do Capitalismo. Daqui a algum tempo, veremos apenas o que quisermos ver, porque os canais serão muitos, as ofertas serão muitas, eu e o mundo poderemos ver em tempo real The Decemberists tocando para 500 pessoas num teatro universitário de Seattle ou de East Lansing.

Nenhum comentário: