terça-feira, 22 de dezembro de 2009

1443) As sete maravilhas de Campina (28.10.2007)




A cultura de massas é um efeito-cascata de modismos. Aconteceu este ano a escolha das “Sete Maravilhas do Mundo”, entre as quais ficou o nosso Cristo Redentor. Depois, o Rio de Janeiro promoveu a eleição das sete maravilhas do Estado. Agora, é Pernambuco que está escolhendo suas sete maravilhas, numa lista onde aparecem a praia de Porto de Galinhas, o Alto da Sé de Olinda, as pontes do Capibaribe, etc e tal. 

Antes que a coisa comece a degenerar em farsa e paródia, que tal fazermos um concurso para as Sete Maravilhas de Campina? Não apenas os nossos monumentos históricos, nossas belezas arquitetônicas, mas aqueles lugares que parecem encerrar em si a essência local. Sendo assim, aqui vão meus votos.

Para começar: o Açude Velho. Nada mais parecido com Campina, principalmente o Açude Velho ao anoitecer, refletindo as luzes dos prédios por entre o violeta sangüíneo do crepúsculo. Espelho maior das nossas histórias, e ainda por cima guardando a virtude mágica de enfeitiçar para sempre o estrangeiro desavisado que beber da sua água. 



Depois, o conjunto formado pela Praça da Bandeira e o prédio dos Correios, pelo seu valor arquitetônico e também por me recordar sempre os momentos emocionantes pré-Internet em que subi aqueles degraus para comprar livros vindos pelo Reembolso Postal, fossem aventuras de Sherlock Holmes em 1960 ou contos de Borges em espanhol em 1974. 



Em termos de arquitetura, tomo outra decisão salomônica: tombar por conta própria toda a Rua Maciel Pinheiro com seus sobrados e sacadas “art-déco”, aos quais nunca dei muito valor porque sempre achei que todos os prédios do mundo se pareciam aos nossos. Depois fiquei sabendo que somos raros e preciosos – vejam só o que é a vida.



Em quarto lugar permitam-me a inclusão do Estádio Presidente Vargas, por motivos históricos, poéticos e freudianos, porque ali tive as mais intensas alegrias e os mais abismais desesperos de minha ainda curta vida. 



Em quinto, o Seminário do Alto Branco. Não estranhem, mas passei 20 anos da minha vida vendo-o erguer-se à esquerda da paisagem divisada do terraço de minha casa paterna, e para mim ele sempre foi uma entidade misteriosa e medieval, guardadora de sabedoria e transcendência. 



Em sexto, eu destacaria o Colégio Estadual da Prata, o inesquecível “Gigantão” que me ensinou a vida dos 13 aos 19 anos, e cuja organização arquitetônica trago nítida e intacta na memória, sala por sala.



E para fechar eu elejo a Rodoviária velha, na Praça Lauritzen, hoje transformada em mercado popular. É um símbolo da vocação de Campina para o varejão, o mercadinho, o vuco-vuco; e foi durante décadas o lugar dos abraços, das despedidas e dos reencontros dos milhares de “paraíbas” que partiam para o Sul cheios de esperança ou dele voltavam cheios de experiência. 



Pois é. Nada de jardins suspensos, nada de obras faraônicas... Mas cada povo tem as maravilhas que lhe cabem, e eu me orgulho das minhas.





Um comentário:

Lucia Queiroz disse...

Concordo com quase todas... eu apenas trocaria o estádio Presidente Vargas pelo Calçadão da Cardoso Vieira (tal como era na década de 1980) e também trocaria o Seminário pelo Teatro Municipal, especialmente durante os Festivais de Inverno (também como eram na década de 1980...)