quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

0783) “Contando histórias em versos” (21.9.2005)



Hoje às 17:00 deverei estar lançando em João Pessoa, como parte do Congresso Internacional de Literatura de Cordel, meu livro Contando Histórias em Versos: Poesia e Romanceiro Popular no Brasil (Editora 34, São Paulo). É um estudo destinado a professores e alunos do 1o. e 2o. grau, resultado de uma oficina literária que realizei em São Paulo nos anos de 2001 e 2002, no Teatro Brincante, num curso organizado por Antonio Nóbrega e Rosane Almeida.

O livro tem três partes. Na primeira, “A poesia”, discuto o que é poesia, o que constitui a linguagem poética, e forneço noções básicas de métrica, rima e estrofe. Na segunda, “A poesia narrativa” examino os poemas que contam histórias, para saber as diversas maneiras de contar uma história. E na terceira, “A poesia narrativa do Romanceiro”, falo sobre o Romanceiro Popular Nordestino, desde os velhos romances ibéricos cantados ou recitados, como o “Romance da Bela Infanta” ou o “Romance da Donzela Guerreira”, até os nossos folhetos de cordel; e analiso um folheto de Delarme Monteiro e outro de Manuel Camilo dos Santos.

A arte da Poesia é uma coisa. A arte da Narrativa é outra. Esta última, por exemplo, pode estar presente no teatro, no cinema, nas histórias em quadrinhos; e na poesia também. Quando juntamos poesia e narrativa temos a possibilidade de contar uma história usando recursos diferentes dos que usamos quando contamos essa história em prosa – na forma de um conto, por exemplo. Podemos usar os recursos da poesia tradicional: as estrofes de forma fixa, a métrica, a rima. Estas três coisas, contudo, não bastam (segundo os críticos mais exigentes) para caracterizar a poesia. Se empregamos uma linguagem frouxa, banal, sem brilho, fica difícil considerar aquilo poesia, mesmo que métrica, rima e estrofe estejam presentes. Os críticos chamam a isto “prosa metrificada e rimada”, e têm uma dose de razão.

Ezra Pound dizia que a poesia é uma linguagem mais concentrada do que as outras, e que os seus principais recursos são a idéia, a imagem e a música verbal. (Ele chama a estes três, respectivamente, de “logopéia”, “fanopéia” e “melopéia”) A poesia lida com idéias, com a evocação de imagens sensoriais (visuais, auditivas, táteis, etc.) e com a musicalidade das palavras (é neste setor que métrica e rima têm um papel importante).

Nossa literatura de cordel é uma região para onde todas estas coisas convergem. Nem todo folheto é narrativo, mas grande parte o é; nem todos são poeticamente bem escritos, mas muitos são. Os chamados “romances” de 32 páginas, gênero em que se destacaram poetas como Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, Joaquim Batista de Sena, Delarme Monteiro e muitos outros, são para mim a nata das narrativas cordelescas, pegando histórias que há séculos sofrem metamorfoses em nossa cultura (como analisou Câmara Cascudo em Cinco Livros do Povo) ou criando histórias próprias.

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