O mês de julho é de férias pra todo mundo, menos para os
free-lancers. Vou aproveitar esse mês em que muita gente fica com a agenda mais
liberada e vou oferecer mais um curso online pelo Instituto Estação das Letras.
A vantagem do curso online é poder captar alunos do Brasil inteiro, e mais
além, se for o caso. Meu curso mais recente (“Lendo Sagarana”, março/maio) teve
alunos de Pernambuco, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, etc.
Como foi grande o interesse em discutir os contos de
Guimarães Rosa, farei agora em julho, todas as segundas e quartas-feiras, “Primeiras Estórias: os Temas Eternos”.
A motivação principal para estes cursos é o fato de que o
romance Grande Sertão: Veredas (1956),
por ser a obra mais monumental do escritor mineiro, acaba atraindo a maior
parte das análises, dos comentários, das leituras. Não tenho nenhuma objeção: é
um desses livros inesgotáveis, cuja releitura sempre me dá prazer e proveito.
Os contos de Rosa, no entanto, ficam meio jogados para
escanteio, o que é um desperdício, porque são consistentemente ótimos,
originais, personalíssimos. É uma obra contística incomparável, em termos de
variedade, domínio da linguagem, imaginação, carga afetiva e emocional, observação
perceptiva da vida brasileira, busca do significado cósmico da existência
humana.
No curso sobre Sagarana
(1946), tivemos dez aulas: uma introdução e nove aulas sobre os nove contos do
livro. O livro Primeiras Estórias (1962)
tem 21 contos e seria contraproducente estender o curso até 21 aulas. Além do
mais, eu não determino sozinho o formato do curso – ele precisa se encaixar na
grade de programação do IEL, que realiza simultaneamente inúmeros cursos,
oficinas e palestras.
Vai daí que arrumei os 21 contos do mestre Rosa em oito
áreas temáticas que cobrem, de modo aproximado, todas as estórias. Advirto
sempre que meus cursos não são cursos acadêmicos, de minuciosa análise
estilística, linguística, estrutural, etc.
Sou um leitor antes de ser escritor, e minhas palestras tentam chamar a
atenção para os aspectos essenciais dos contos, e quebrar a aura de “dificuldade”,
“ilegibilidade”, “hermetismo” que muita gente ainda atribui à obra de Rosa.
Rosa era um erudito, um poliglota, um homem de vastas
leituras, mas acima de tudo era um apaixonado pela língua
portuguesa-brasileira, e pela arte de contar estórias. Levava ao pé da letra
aquela máxima de “dizer as coisas velhas de maneira nova”. Escrevia se
divertindo, escrevia dando gargalhadas, escrevia com a alegria de um menino-sabido
que arma um alçapão de varetas para capturar um leitor.
(ilustração: Luhan Dias)
A organização do curso (que começa na 4ª.feira, dia 5 de
julho) está mais ou menos assim:
“Primeiras
Estórias: os temas eternos”
Um estudo de alguns temas constantes na obra de Guimarães
Rosa, com a leitura comparada dos contos do livro “Primeiras Estórias”.
Oito aulas, duas aulas por semana. Total: quatro semanas.
Das 19 às 21:00. Estação das Letras: (21) 99127-4088
Aula 1 – 5 de
julho, 4ª.feira, 19 às 21:00
A infância e suas descobertas
Contos: “As margens da alegria”/”Os cimos”, “A menina de
lá”, “A partida do audaz navegante”, “Pirlimpsiquice”
Aula 2 – 10 de julho, 2ª.feira, 19 às 21:00
Jagunços: violência e autoridade
Contos: “Os irmãos Dagobé”, “Famigerado”, “Fatalidade”, “Tarantão,
meu patrão”
Aula 3 – 12 de julho, 4ª.feira, 19 às 21:00
Viagens fantásticas
Contos: “Um moço muito branco”, “A terceira margem do
rio”.
Aula 4 – 17 de julho, 2ª.feira, 19 às 21:00
A alma feminina
Contos: “Substância”, “A benfazeja”.
Aula 5 – 19 de julho, 4ª.feira, 19 às 21:00
Os doidos
Contos: “Sorôco, sua mãe, sua filha”, “Darandina”, “O
cavalo que bebia cerveja”, “Tarantão, meu patrão”.
Aula 6 – 24 de julho, 2ª.feira, 19 às 21:00
O mistério da existência
Contos: “A terceira margem do rio”, “O espelho”, “Nada e
a nossa condição”, “O cavalo que bebia cerveja”.
Aula 7 – 26 de julho, 4ª.feira, 19 às 21:00
A arte de contar histórias
Contos: “Pirlimpsiquice”, “Partida do audaz navegante”, “O
espelho”.
Aula 8 – 31 de julho, 2ª.feira, 19 às 21:00
As formas do amor
Contos: “Nenhum, nenhuma”, “Sequência”, “Luas de Mel”
Esta classificação é bem arbitrária, porque a maioria dos
contos toca em vários destes temas, então a decisão de colocar cada num nesta “caixinha”
e não em outra é apenas para facilitar a organização.
Como sempre faço, utilizarei uma cópia do livro em PDF
para vermos o texto na tela, quando necessário, mas reitero a minha
recomendação de que todo mundo compre o livro físico. Não sei quanto está o
preço na livraria. Seja quanto for, está barato.
“Vida havendo e saúde não faltando”, como dizia José
Saramago, pretendo no ano que vem (pois no segundo semestre deste ano tenho
muitas viagens a fazer) preparar um curso semelhante. A dúvida é apenas optar entre
as sete noveletas de Corpo de Baile
(1956) e as quarenta historietas de Tutaméia
(1967).
Cada um de nós se esquecera de seu mesmo, e estávamos transvivendo,
sobrecrentes, disto: que era o verdadeiro viver? E era bom demais, bonito – o milmaravilhoso
– a gente voava, num amor, nas palavras: no que se ouvia dos outros e no nosso
próprio falar. E como terminar?
("Pirlimpsiquice")
2 comentários:
Não tem um link para a inscrição?
Paulo: ao que eu saiba, inscrições apenas por telefone: Estação das Letras: (21) 99127-4088
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