Desde os dezoito anos eu vejo menções à famosa frase do
quadrinista Walt Kelly, o autor da série Pogo: “We met the enemy, and he is
us”. “Encontramos o inimigo e ele é nós”. Ou, numa tradução mais coloquial,
mais próxima do registro da HQ original: “Saquei quem é o inimigo. É a gente”.
Fui dar uma olhada na história dessa frase e fiquei sabendo
que ela surgiu como paródia a outra frase famosa, pronunciada a sério. Em 1913,
o Comandante Perry, da marinha norte-americana, assim anunciou aos seus
superiores a vitória naval na batalha do Lago Erie: “We have met the enemy, and
they are ours” Ou: “Encontramos o inimigo, e eles agora são nossos (=estão em
nosso poder).”
A frase de Kelly tem a ver com a criação de alienígenas na
ficção científica, porque de cada um deles pode-se dizer: “Ele é a gente”. Não importa se são lagartiformes ou
esféricos, se são mamíferos ou insetóides. Sua aparência pode ser demoníaca
como ocorre com os Overlords de Arthur C. Clarke em O Fim da Infância,
colossal como o Bihil de O Grande Ser de Peter Randa, quase imaterial como A
Nuvem Negra de Fred Hoyle. Pode ser repugnante, incompreensível. No momento em
que existe entre eles e nós qualquer interação, qualquer troca de mensagens
(mesmo hostis), o Outro nos tocou, nós o tocamos, e sua alteridade se rompeu em
parte, porque descobrimos nele alguma coisa de nós mesmos.
Em Alien Encounters (1981) de Mark Rose, ele cita o
comentário de Patrick Parrinder, de que “não é possível imaginar algo
totalmente alienígena, mas apenas conceber algo que nos seja estranho por
efeito de contraste ou de analogia com algo já conhecido.” Isto faz, diz Mark
Rose, com que possamos imaginar porcos voadores ou mentes que caminham ou mesmo
estrelas inteligentes, mas não somos capazes de imaginar algo que não mantenha
relação alguma com o que já conhecemos. Por isso (diz Parrinder) os alienígenas
na FC possuem sempre uma dimensão metafórica. Por mais que sejam produtos da
imaginação, e por mais desbragada que esta seja, há sempre algo nosso nesse
elemento que sintetiza a Estranheza.
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