quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

3055) "Caçada Humana" (13.12.2012)





Este filme de Arthur Penn, de 1966, nunca foi prestado atenção pela crítica. (Eis um exemplo de linguagem informal que os gramáticos abominam.) Teve a má sorte de vir entre uma obra-prima alegórica demais (Mickey One) e um sucesso arrasador (Bonnie e Clyde), de modo que todo mundo o esqueceu. Ele manipula algumas situações clássicas, sendo a mais visível delas O Xerife Indefeso – aquelas situações em que todo mundo numa cidade está cúmplice de uma barbaridade qualquer, e a única voz da razão, mesmo sendo voto vencido, é o xerife local  No presente caso, Marlon Brando, fazendo seu habitual personagem ético e durão, num casamento solidário, sólido, com a bela Angie Dickinson.

Um rapaz dessa cidadezinha texana fugiu da cadeia e parece estar voltando à cidade, acusado de assassinato. Os cidadãos respeitáveis locais (uns sujeitos bêbados e armados) decidem abatê-lo, para se divertir. Durante um dia e uma noite, a cidade ferve com essa perseguição e emboscada (porque a própria vítima vem ao encontro dos que querem pegá-lo). A esposa e o maior amigo dele tentam salvá-lo. O presidiário é Robert Redford, a esposa é Jane Fonda, o amigo é James Fox. O pai do rapaz, o milionário local, é o ator E. G. Marshall, fazendo aqui um texano com uma inquietante semelhança com George W. Bush. Há numerosos atores coadjuvantes que arrasam, como o casal do marido babaca Robert Duvall e a esposa periguete Janice Rule.

Arthur Penn é por algum motivo um diretor pouco lembrado dos anos 1960, e um dos melhores. Revi agora Caçada Humana, em DVD, numa versão de 2:13 horas, maior do que a que vi originalmente. Não tem o ritmo de metralhadora frenético dos filmes de hoje, mas tem uma narrativa bem amarrada pelo roteiro de Lillian Hellman, a namorada de Dashiell Hammett (eita, que as feministas vão espernear). A violência interiorana (hoje tão visível em David Lynch, nos Irmãos Coen) é descrita de forma exemplar. Os principais vilões são sujeitos cujo nome a gente não lembra mais, assim que o filme acaba.

Cidadezinhas em pé de guerra contra uma vítima indefesa (ou assistindo passivamente sua perseguição) aparecem em Fúria (Fritz Lang, 1936), Matar ou Morrer (Fred Zinnemann, 1952). O Xerife Indefeso teve uma excelente recriação em Assalto à 13a. Delegacia com Ethan Hawke (Jean-François Richet, 2005). Multidões são facilmente mobilizáveis para linchar criminosos, principalmente num sábado à noite, numa cidade onde nada interessante acontece.  Cabe às vezes aos xerifes a tarefa paradoxal de defender um criminoso contra a fúria dos cidadãos pacatos. É um ponto de partida interessante para discutir lei, justiça, crime e violência.



4 comentários:

Kadu Mauad disse...

Bom dia, BT.

Acabou que enviamos o e-mail pelo destinatário ContaêJF. Em si tratando de um trio e o interesse ser em comum, fi-lo.

Você o recebeu?

cordial
eumauad

Daniel Andrade disse...

a propaganda foi tão boa que irei descarregar o filme da intert. =]]

Anônimo disse...

Caramba, fazia tempo que não via alguém mencionar Mickey One.Vi uma vez no Cinemax e não esqueci. Clássico de primeira água criminalmente subestimado.

Braulio Tavares disse...

Ramon, esse filme "Mickey One" é incrível, na primeira vez em q assisti vi 3 sessões seguidas. A galera não gosta mas eu acho obra prima. Fiz uma citação a ele no meu conto "Príncipe das Sombras" na "Espinha Dorsal da Memória" (o cara vai ao cinema e vê a cena de um cara fugindo num cemitério de automóveis).