“Hoje não tem ensaio na Escola de Samba... / O morro está
triste e o pandeiro calado”. A manhã de domingo trouxe a notícia temida há
muito tempo: a morte de Roberto Silva, o maior sambista brasileiro. Tinha 92
anos, e meses atrás eu lera que estava muito doente. Soube agora que tinha câncer de
próstata. Os sambas de Roberto Silva
marcaram minha infância e adolescência, porque foi durante os anos 1950-60 que
ele lançou sua coleção de quatro LPs Descendo o Morro, cujas canções tocaram
nas rádios do Brasil inteiro. Veio a Jovem Guarda, veio o Tropicalismo, o
Rock-BR, e Roberto desapareceu. Ressurgiu com força total aos 80 anos, e foi num
artigo de Ruy Castro que fiquei sabendo do relançamento em CD da série
Descendo o Morro, um CD duplo que traz todos os quatro discos.
Maior sambista brasileiro?
Que história é essa? E Paulinho da Viola, Martinho da Vila, etc.? Bem, em primeiro lugar Roberto corre noutra
raia, porque é mais cantor do que compositor, é do tempo do cantor intérprete,
que grava as composições alheias. Em segundo lugar, se você fizer uma enquete
com todos os candidatos a maior sambista brasileiro e tocar no nome “Roberto
Silva”, o mais provável é que todos eles ponham um joelho em terra e peçam-lhe
a bênção. Ele foi um artista fundador de um estilo, com sua voz grave,
encorpada, expressiva, capaz de sutilezas de ironia ou de romance; uma espécie
de Orlando Silva com gingado de malandro e repertório de morro.
Tive a alegria de vê-lo ao vivo no Cine Odeon, na Cinelândia,
num histórico show de samba em que ele subia ao palco acompanhado de uns 20
músicos para cantar seus grandes sucessos como “Amanhã eu volto”, “Ai que
saudade da Amélia”, “Emília”, “Errei, erramos”, “Falsa baiana”, “Agora é cinza”
e por aí vai. Como todos os cantores de
sua época, gravou diversos estilos, incluindo bolero e samba-canção. Uma das
minhas preferidas é “Jornal da Morte”, que comentei nesta coluna no ano passado
(http://bit.ly/RA39i1).
4 comentários:
O espetáculo que você assistiu no Cine Odeon era o "O Samba é Minha Nobreza, do Hermínio Bello de Carvalho, que acontecia por volta do meio-dia, em especial às crianças de colégio público? Eu devo ter ido em pelo menos uns dois.
Abraço, BT.
Foi esse espetáculo mesmo, Kadu. Tenho o CD até hoje, um show excelente com inúmeros sambistas de primeira.
O samba está tão presente na alma do brasileiro quanto os glóbulos brancos no sangue. Sem samba a MPB não seria a mesma, e talvez não passasse de uma replica da música americana, não que a música americana não tenha qualida, pero, a MPB é danada de boa desde as melodias até as letras.
hum, não sei absolutamente nada sobre samba. Ainda sou brasileiro?
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