O
termo “photoshop” virou hoje em dia sinônimo de alteração, interferência ou
falsificação de uma imagem. A técnica digital fez com que até um desocupado e
leigo como eu seja capaz de pegar uma foto e apagar a presença de uma pessoa,
coisa que antigamente só o Departamento de Propaganda do Kremlin era capaz de
fazer. Engana-se quem pensa que isso surgiu com a imagem digital. No tempo do
negativo em celulóide e da cópia em papel havia mil técnicas para interferir na
imagem, como aliás o Kremlin (e o Pentágono) faziam a dar com o pau. Claro que
nem sempre isso era feito por manipulações maquiavélicas. Os fotógrafos antigos
interferiam na imagem, em geral, para obter efeitos estéticos mais
interessantes, ou até (vejam só a ironia!) para produzir imagens mais parecidas
com a realidade (ou com o modo como a realidade é vista a olho nu). Os
negativos antigos, por exemplo, reagiam de forma desigual à luminosidade do céu
e à luz refletida na paisagem, de modo que era hábito, cem anos atrás, tirar
duas fotos do mesmo ângulo, com medições de luz diferentes, e depois recortar e
colar o céu de uma e a paisagem de outra.
A
interferência na imagem, portanto, pode ter como objetivo produzir: 1) imagens
mais realistas; 2) imagens fantásticas ou impossíveis; 3) imagens esteticamente
mais interessantes onde o realismo fica em segundo plano (as fotos do
Instagram, hoje em dia, produzem coloridos fantásticos que nossos olhos não
veem); 4) imagens que sutilmente querem se fazer passar por autênticas, sem dar
a perceber que foram manipuladas (o efeito Kremlin-Pentágono).
O
museu Metropolitan (Nova York) vai inaugurar em outubro uma exposição intitulada
“Falsificando: a Fotografia Manipulada Antes do Photoshop” (ver: http://bit.ly/KHaYSc), com mais de 200 amostras
produzidas entre as décadas de 1840 e 1990. São exibidas diversas técnicas de
manipulação: múltipla exposição (várias imagens num só negativo), imagens
combinadas (colagem de partes de diferentes negativos), fotomontagem, pintura e
retoque tanto de negativos quanto de cópias em papel.
2 comentários:
Tens razão Bráulio, esta questão de fotomontagens, trucagens remonta aos tempos de Daguerre e Niepce, nos primordios da fotografia. Fico a imaginar como será a fotografia de amanhã. Será que teremos fotos irradiando odor e temperatura, por exewmplo?
Temperatura e odor é mais difícil de obter. Mas já temos fotos animadas, os GIF animados que vemos na net e que em breve poderão estar incorporados a qualquer publicação eletrônica como a regra e não a exceção.
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