quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

2728) Perda total (1.12.2011)



Esta história é verídica, descontados os detalhes que sou forçado a inventar para manter a sua lógica interna. 
Vítor era um conhecido meu que produzia shows no Recife, trinta anos atrás. Por mais de uma vez me levou para cantar meus batuques apocalípticos em coletivas no Teatro do Parque e na Universidade Rural. 

Houve uma época em que era o responsável pela programação de uma Lona Cultural, ou coisa parecida, que havia em Olinda, para onde ele trazia toda semana uma atração nacional. Reza a lenda que certa vez Vítor conseguiu, depois de muito esforço, trazer uma grande cantora da MPB para se apresentar na tal lona; umas versões dizem que foi Simone, outras que foi Nana Caymmi, mas isto é secundário. 

Fiquemos com Simone. Vítor foi buscá-la no aeroporto cheio de salamaleques e cortesias, buquê de flores na mão. Agradeceu muitíssimo a boa-vontade dela em vir cantar cobrando metade do cachê habitual. Levou Simone e a banda para o melhor hotel que seu parco orçamento permitia. 

De tarde levou-a com os músicos a Olinda, para a passagem de som. A cantora e a banda elogiaram o som, o que deixou Vítor nas nuvens, porque era uma aparelhagem caríssima e sofisticada que ele acabara de comprar. Terminada a passagem de som, já ao anoitecer, Simone e banda voltaram para o hotel, pois o show seria às 22 horas. Vítor pegou o fusca e correu para casa, onde morava sozinho, para jantar e trocar de roupa. 

Saía do banho quando o telefone tocou. Era o cara do som. 

“Vítor, temos uma pequena zebra aqui”. 

Ele: “O que foi?”. 

O cara: “Quando ligamos o som e a iluminação ao mesmo tempo houve uma sobrecarga”. 

Ele: “Isso prejudica algum dos dois?”. 

O cara: “A verdade é que prejudica tudo. O sistema elétrico pifou.” 

Ele: “Ih, danou-se. Tem um de reserva?”. 

O cara: “Não, ninguém tem isso de reserva, e a verdade é que o teu som novo queimou. Perda total.” 

Ele pensou durante alguns intermináveis segundos e disse: “E se a gente tirar o som novo e trocar pelo som velho, que está guardado?”. 

O cara: “Mesmo assim teria que providenciar outra luz completa, e também trocar todo o sistema elétrico da lona. É trabalho para 24 horas, no mínimo. E outra coisa, já tem uma multidão aqui do lado de fora, a gente não sabe se abre e deixa entrar, ou se diz ao público o que aconteceu.” 

Ele: “Tá danado. Segura as pontas, estou indo pra aí”. 

Vítor me contou isto anos depois, tomando uma cerveja em Copacabana. Eu perguntei: “E aí? Fizesse o quê?”. 

Ele respondeu: “Fui pro aeroporto, peguei um avião pra Salvador, e passei seis meses em Porto Seguro. Voltei pro Recife tão bronzeado que a galera quase não me reconhece”.







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