quarta-feira, 21 de setembro de 2011
2667) Bicicleta abandonada (21.9.2011)
(foto: Joe Schumacher)
A idéia é de Avram Davidson, em “Or all the Seas with Oysters” (que eu traduziria por “E os mares cobertos de ostras”). É uma teoria científica heterodoxa (os cientistas ortodoxos são incapazes de ter novas idéias sobre o Universo). O conto, ganhador do Prêmio Hugo de 1958, mostra o diálogo entre dois amigos: Ferd (que gosta de livros, LPs e conversas de alto nível) e Oscar (que gosta de cerveja, boliche e mulheres). Ferd se interessa por fenômenos biológicos: o mimetismo, que faz algumas criaturas vivas se disfarçarem como objetos (galhos, pedras, etc.) para atrair vítimas; e a regeneração, que faz um lagarto crescer um rabo novo depois de ter o rabo cortado.
E Ferd diz: já repararam como os alfinetes de segurança (ou “broches de fraldas”) parecem sumir quando a gente, com bebê em casa, mais precisa deles? Já repararam como os cabides de roupa (ou “ombreiras”) parecem se multiplicar nos armários – a gente deixa dois e no dia seguinte encontra cinco? Ferd descobre que o mundo está sendo invadido por uma espécie nova, uma raça de seres metálicos. Sua forma inicial é o alfinete de segurança. Daí ele evolui para a forma de cabide, que é a larva. E finalmente desabrocha na forma adulta, que é a bicicleta.
Ferd explica ao boquiaberto Oscar que essas criaturas vivem de elementos que captam do ar; e que evoluem, mudando de forma, apenas quando não são vistas por ninguém. Uma grande parte das bicicletas que vemos na rua (acorrentadas aos postes e às grades, abandonadas nos parques, etc.) não foram feitas numa fábrica. São formas mutantes que esses seres metálicos adotaram por mimetismo, para passar despercebidos.
O fotógrafo Joe Schumacher, que mora no Harlem (Nova York) tem um websaite onde fotografa de tudo, inclusive bicicletas abandonadas. Uma das suas fotos mostra um desenvolvimento insuspeitado da teoria de Davidson. (http://bit.ly/qZTVjj) Num daqueles mourões de metal usados para “ancorar” bicicletas nas ruas, ele registrou a presença de três dessas criaturas, acorrentadas juntas. Uma delas é um carrinho de supermercado – esse nosso carrinho comum, de trepidantes varetas metálicas. A segunda é uma bicicleta normal e a terceira é uma dessas bicicletas de entrega, com uma caixa plástica de colocar garrafas de leite. Um casal com seu filhote? Um sambaqui onde jazem três estágios sucessivos da evolução de um alienígena, uma forma de vida baseada no alumínio e agora, darwinianamente, incorporando o plástico? Ah, amigos, a ciência oficial não se pronuncia a respeito, está ocupada projetando cíclotrons que não servem para nada, e inventando antidepressivos para a indústria farmacêutica.
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