terça-feira, 8 de junho de 2010

2123) Tuitando com a mente (27.12.2009)



(ilustração: Frank R. Paul) 

O saite da revista Time fez uma matéria destacando as principais invenções de 2009. Entre elas, o Twitter mental. 

Muitos adolescentes preguiçosos ficarão assanhados quando souberem que em abril, na Universidade de Wisconsin, os pesquisadores Adam Wilson e Justin Williams conseguiram enviar um texto de 22 caracteres para o Twitter, usando apenas a força mental. 

Como é possível? A cobaia (no caso, Williams) instalou na cabeça um capacete com eletrodos que monitoravam sua atividade mental. Em seguida, ele fixava a atenção numa tela, onde o alfabeto ia sendo projetado letra por letra, e “escolhia” mentalmente a letra que queria usar na formação de uma palavra. Os eletrodos captavam esse aumento de atividade cerebral no instante em que ele escolhia a letra, e davam o comando para que ela fosse transmitida. 

Desse modo, Williams transmitiu a frase que talvez um dia torne-se mítica e emblemática: USING EEG TO SEND TWEET, “usando eletro-encefalograma para tuitar”. Note-se que são 18 letras e 4 espaços: os espaços também entram no processo de escolha. 

Parece milagre mas é muito simples: tudo de que precisamos é uma maneira confiável de captar um pequeno “estremecimento mental” de reconhecimento e escolha, associá-lo de maneira inequívoca ao símbolo que o produziu, e transmitir esse símbolo para qualquer equipamento produtor de texto. 

Processo que não é muito diferente do que é usado com pacientes tetraplégicos ou acometidos por algum tipo de problema que deixe seu corpo paralisado mas a mente intacta. 

Ocorreu isso com Assis Chateaubriand após o famoso derrame que o tornou inválido em fevereiro de 1960, conforme conta Fernando Morais no capítulo 34 de seu livro Chatô. Imobilizado por uma trombose, Chateaubriand estava totalmente consciente, e uma enfermeira esperta teve a idéia de combinar com ele sinais com os olhos (fechar os olhos para dizer “sim”, deixá-los abertos para “não”). Depois, ela pregou, na parede do quarto do hospital, folhas de papel com o alfabeto. Ia apontando cada uma com uma régua, e quando ela chegava à letra que ele queria, Chatô fechava os olhos. 

Compôs assim sua primeira frase pós-trombose, que provou (para desespero de seus inimigos e euforia dos seus xeleléus) que ele continuava lúcido: “Já entendi tudo: o edifício pegou fogo, só sobrou a biblioteca”. 

A biblioteca agora, ao que parece, pode se tornar virtual, pode se transformar em impulsos elétricos do cérebro transmitidos via wireless para um computador ou um celular, etc. e tal. A Time comenta com bom-humor que por enquanto a maior velocidade conseguida pelos pesquisadores é de 8 caracteres por minuto, o que torna esse processo mais adequado para o Twitter do que para textos mais densos. 

Em casos assim, contudo, o que importa é comprovar o processo, mostrar que pode ser executado com precisão e com meios acessíveis. Aumentar a velocidade é mera questão de tempo, e as possibilidades, como sempre, são infinitas.






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