terça-feira, 8 de junho de 2010

2122) No Reino da Dinamarca (26.12.2009)



O relativo fracasso das negociações ambientais na cúpula de Copenhague já estava mais ou menos previsto, e, como bem falou nosso presidente, somente um milagre ou um anjo descido do céu seria capaz de reverter, de última hora, a tendência do mundo para uma inexorável rota de colisão consigo mesmo. A colisão pra valer só acontecerá dentro de algumas décadas, portanto nenhum de nós, participantes e espectadores da cúpula, tem motivo para se preocupar. Como na velha história do cara que prometeu ao rei que em 10 anos ensinaria um burro a falar, “até lá ou morro eu, ou morre o rei ou morre o burro”.

Claro que os líderes comunistas chineses não estão a fim de sustar sua industrialização galopante por motivos ambientais. Quando a China começar a sofrer os efeitos das suas decisões de hoje, todos eles já estarão confortavelmente embalsamados em seus mausoléus. Claro que Barack Obama (que para manter os EUA respirando a curto prazo precisa costurar dezenas de acordos políticos internos, delicados, com seus adversários domésticos), não vai “dar uma de frouxo” e obrigar o país a um sacrifício a que os americanos não estão habituados, e que considerariam sinal de fraqueza. Ou seja: em princípio, ninguém tem nada contra o meio ambiente, ninguém tem planos de destruir o planeta. Mas todo mundo tem prioridades políticas a curto prazo. Se elas ameaçam de extinção a Humanidade, tanto pior para a Humanidade. Numa democracia, os eleitores são mais importantes do que ela. (É ou não é?)

É a velha solução do bêbo liso: se não tem dinheiro para pedir a conta, melhor dar de ombros e pedir outra cerveja. Alguém vai pagar a conta, e posso até ser eu-amanhã, mas eu-agora é que não pago.

A teoria freudiana diz (na verdade não é bem assim que ela diz, estou fazendo uma bruta simplificação, a bem da brevidade) que o ser humano é movido por dois impulsos, um impulso de prazer (Eros) e um impulso de morte (Tânatos). O impulso do prazer quer a gratificação contínua e ininterrupta dos nossos desejos físicos. O impulso de morte nos leva à auto-destruição como indivíduo e como espécie. Abstraindo a visão psicanalítica e projetando-a para o gênero humano, podermos ver a junção dos dois impulsos neste nosso processo de destruição do planeta. No momento atual, predomina o impulso do prazer. Criamos uma industrialização e uma sociedade consumista que nos gratifica física e psicologicamente: roupas caras, carros, ar condicionado, aquecedor, indústrias, empregos, luz elétrica abundante, eletrodomésticos para fazer a mais boba tarefa, toda uma civilização do ócio e do conforto, que exige quantidades indescritíveis de energia, e joga na atmosfera quantidades equivalentes de poluição. Tudo isso para garantir nosso prazer. Quando percebermos o mal que fizemos a nós mesmos, nos destruiremos. Pense Mad Max, pense ficção pós-apocalíptica, pense um mundo de gangues em guerra por comida, por água, por oxigênio para respirar.

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