terça-feira, 8 de junho de 2010

2117) Os políticos e os maridos (20.12.2009)



Por que motivo tantos políticos desviam verbas públicas, cobram propinas para cumprir suas obrigações, usam o poder conferido pelos seus mandatos para tornar-se milionários em poucos anos de atividade? (Nunca esquecerei a frase que li uma vez: “Eu só tenho quatro anos para ficar rico, talvez nunca mais tenha outra chance!”). Muitos fazem isso porque são (como a imprensa e a população não cansa de chamá-los) canalhas, calhordas, larápios, etc. Mas no meio dos políticos desonestos deve existir um contingente de sujeitos que não são tão maus assim. São bons administradores, são amigos leais dos seus amigos, são pais de família exemplares... Por que roubam, então? Resposta: roubam porque lhes foi dito que todo mundo rouba, e nenhum deles quer ser o primeiro a abrir mão de um direito adquirido há séculos.

Nesse aspecto, não diferem muito de outro tipo de cidadão: o marido que trai a esposa. Um marido, no mundo ocidental (não faço uma idéia muito clara de como se comportam os maridos em culturas como a da China, a do Irã, a da Índia, etc.), assume compromissos civis e religiosos quando se casa. Entre estes, está (se não me falha a memória) o de ser fiel à esposa. Claro que um tal compromisso é apenas “pro forma”, da boca pra fora, porque em grande parte dos casos todo mundo sabe (ele, a esposa, o padre, o sacristão, as testemunhas, os garçons e os manobristas da festa do casamento) que, na primeira chance que tiver, ele a trairá de coração alegre e consciência tranquila. Por que não o faria? Todo mundo faz. Claro que se for a esposa a traí-lo ele invocará prontamente o Código Civil, a Bíblia, e qualquer legislação que lhe dê o direito de se sentir prejudicado. Mas todo mundo sabe (eita frasezinha fatal) todo mundo sabe que essas coisas só valem para a mulher, não valem para o homem. Esses maridos traem porque nenhum deles quer ser o primeiro a abrir mão de um direito adquirido há séculos.

Com o erário público é a mesma coisa. O dinheiro público (e o dinheiro das propinas, das percentagens por-baixo-do-pano, etc.) oferece-se a um político com todo o coquetismo e todos os decotes de quem nasceu para se oferecer, de quem nasceu para se dar. Pegue uma nota qualquer de dinheiro público, e olhe atentamente. Você vai ver que em alguns segundos a efígie daquele vulto histórico barbudo se metamorfoseia na imagem de uma mulher linda, provocante, que pisca o olho em câmara lenta e sussurra: “Leve-me. Posso ser sua. Você tem direito a mim, é só querer. Todo mundo já me levou.” Noventa por cento dos políticos, noventa por cento dos maridos (não tabulei pesquisas; esta percentagem é meramente metafórica) levam.

Um antigo provérbio anarquista dizia que só existirá justiça social no mundo quando o último burguês for enforcado com as tripas do último padre. Eu afirmo que em nosso mundo os políticos só deixarão de roubar quando os maridos deixarem de trair. Pra vocês verem o tamanho do problema.

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