terça-feira, 1 de junho de 2010

2102) O oceano da informação (3.12.2009)





(mapa da Internet)

A proliferação da informação parece uma coisa boa. Nossa memória guarda a lembrança traumática de um tempo em que não tínhamos muita escolha. 

Eram poucos os jornais: em geral, um que defendia o governo e outro que o atacava em nome da oposição. 

Poucas as estações de rádio: o ponteiro vertical de sintonia passava a noite percorrendo o mostrador, da esquerda para a direita, e depois voltando, em busca de algo interessante. 

Poucos os canais de TV, que eram trocados através de um enorme botão mecânico no canto superior direito do aparelho, num giro de pancadas sucessivas em busca de um programa que agradasse. 

Poucas também as livrarias, nas quais os livros no balcão e na vitrine eram substituídos muito lentamente.

Sem falar na informação que era proibida, como na época da ditadura, em que era possível um presidente da República (o marechal Costa e Silva) ter um AVC, ficar praticamente em coma, e nenhum órgão da imprensa poder noticiar este fato. 

Ou na informação fabricada, em que era possível um presidente da República (Tancredo Neves) estar à beira da morte e ser forçado a posar sorridente, ao lado da esposa também sorridente e dos médicos mais sorridentes ainda, para fazer a população crer que estava tudo bem (não estava) e que ele sobreviveria (não sobreviveu).

Vai daí que nos sentimos felizes hoje, espadanando neste mar de 70 canais de TV a cabo, centenas de rádios FM, milhares de rádios AM, internet, Google, Facebook, Twitter, MySpace, Orkut, torpedos via celular, chat-rooms... Um oceano de informação. 

O problema é que o oceano é tão grande que podemos mergulhar nele e descer verticalmente centenas de metros sem nunca abandonar a superfície. A superfície dele não acaba, é um oceano só superfície, sem profundezas. Um oceano que se auto-multiplica a cada dia que passa, cresce exponencialmente, brota e rebrota de si próprio a cada novo gadget que é adquirido por nossos incontáveis cartões de crédito.

Assim como imaginamos que ter muitos cartões de crédito é sinônimo de ter muito dinheiro, imaginamos também que ter aparelhos de transmitir e receber informações é sinônimo de estarmos bem informados, de estarmos sabendo mais coisas, de estarmos adquirindo mais conhecimentos e mais sabedoria. 

Se nos disserem que a Internet nos proporciona hoje um milhão de livros gratuitos, ficamos felizes. Se amanhã nos disserem que este total saltou para 10 milhões de livros, ficaremos dez vezes mais felizes, como se o simples fato desses livros existirem e serem “disponibilizados” tornasse possível a leitura de todos eles.

Quanto mais cresce o oceano da informação (e sua intransponível superfície de irrelevâncias) mais diminuímos. Porque a tecnologia pode aumentar em muitos milhões a quantidade de textos gratuitos, mas não pode aumentar o dia, que só tem 24 horas. 

Eu troco todos os Googles e Amazons do mundo por um dia de 36 horas, para que eu tenha mais tempo para ler. Alguém se habilita?






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