segunda-feira, 24 de maio de 2010
2066) “A Máquina do Tempo” (22.10.2009)
Revi no DVD esta adaptação dirigida por George Pal em 1960 para o romance clássico de H. G. Wells, em que um inventor, o fim do século 19, constrói uma máquina que o conduz ao ano 802.701. Vi este filme aos dez anos e é ainda hoje um dos que me produziram uma impressão mais forte. Quase meio século depois, algumas imagens estavam perfeitamente nítidas na minha memória, e neste intervalo creio só tê-lo revisto uma vez, na “Sessão da Tarde” da TV.
A longa sequência inicial do filme tem uma ambientação “steampunk”, na Londres vitoriana, reproduzida com fidelidade cinematográfica. Ou seja: o filme é fiel aos filmes anteriores, e é irrelevante se a Londres real era daquele jeito ou não. George Pal fez uma quantidade razoável de filme de FC sem genialidade mas cheio de pequenos toques brilhantes, principalmente quanto ao visual. Neste filme, a obra-prima é a máquina em si, uma espécie de trenó metálico em tamanho grande, com um painel de controle, um assento, e – este é um toque do filme, ausente no livro de Wells – um enorme disco rotatório por trás do assento, disco que se põe em movimento quando a máquina é acionada. O design da máquina é de William Ferrari, que voltou a trabalhar com o diretor em Atlântida, o Continente Perdido (1961), e também foi diretor de arte em episódios da série Twilight Zone (1959-1963).
A sequência da primeira viagem pelo Tempo, com câmara acelerada, flores desabrochando a olhos vistos, o sol percorrendo o céu a toda velocidade, é uma das melhores coisas do filme. Pal e seu roteirista David Duncan fazem o Viajante no Tempo fazer duas paradas intermediárias (que não constam do livro de H. G. Wells), uma em 1917 e outra em 1940, ambas durante as guerras mundiais, e mais uma terceira em 1966, quando está em curso uma outra guerra, desta vez com armas atômicas. É uma alteração no enredo que de certa forma o reforça, pois Wells foi um crítico feroz da guerra.
O filme cai um pouco quando o Viajante no Tempo chega ao futuro, porque a situação proposta por Wells sofre uma diluição braba. A humanidade está dividida entre os Elois, que são lourinhos, ingênuos, e vivem como hippies inofensivos, tomando banho de rio e comendo frutas; e os Morlocks, criaturas monstruosas, que vivem no subterrânea cuidando das máquinas. Os Morlocks do filme têm uma aparência grotesca e não parecem muito as criaturas albinas, fotófobas mas inteligentes do livro de Wells. E toda a especulação sociológica de Wells se dilui. Também está ausente do filme a ida final do Viajante para o futuro remoto, daqui a milhões de anos, quando o sol está a ponto de se apagar.
A não ser isto, o traçado geral do filme segue de perto a obra original. A primeira metade é melhor do que a segunda. É um filme de FC dos anos 1960 que merece ser visto e revisto, pelo charme com que reconstitui uma obra clássica numa recriação visual que em muitos momentos se equipara ao livro.
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