terça-feira, 4 de maio de 2010

1993) A rebelião das máquinas (29.7.2009)



Toda vez que ponho um CD de música no draive, meu computador me pergunta se desejo executá-lo no Winamp, meu programa tocador-de-música oficial. Clico que por mim está OK. Ele começa a tocar a música, mas logo surgem telazinhas menores. Percebo que aquele disco é desconhecido, e que o computador está acessando um saite qualquer na Internet, em busca de alguma informação. Daí a pouco uma das telazinhas se sobressai e me sugere um título possível para o que estou escutando: “A Meeting by the River – Ry Cooder &V. M. Bhatt”. Eu confirmo? Clico que sim. Magicamente, a tela faz surgir os nomes exatos das faixas, sua duração, e mostra qual delas está sendo executada no momento. Fico feliz? Nem um pouco. Fico trêmulo de presságios. Quanto falta para a Rebelião das Máquinas?!

Eis um tema que tem malassombrado as noites dos escritores de FC desde o Paleolítico. Imagino um cavernícola sonhando que chega à gruta e vê uma porção de pedras lascadas aglomerando-se em torno de uma pedra polida que discursa em voz alta, conclamando-as à revolta, e dizendo que sem elas os seres humanos estariam fadados à extinção. Todo criador tem medo de suas criaturas, porque sabe que ao dar-lhes vida está comunicando a elas um pouco de sua própria essência. Os Titãs se rebelaram contra os Deuses do Valhala, Lúcifer se rebelou contra Iavé, Prometeu roubou o fogo dos Deuses para dá-lo aos homens, Adão e Eva preferiram conhecer o fruto da árvore da sabedoria do que continuar pastando o capim da obediência... Os Deuses, quando se reúnem no botequim para tomar cerveja com calabresa frita, devem comentar entre si: “Eita raçazinha malagradecida!”.

Vai daí que chegou nossa vez de encher o mundo de criaturas e perder o sono imaginando como é a noite delas, que não dormem. Pela nossa mania de antropomorfizar as coisas, no entanto, imaginamos que elas irão se tornar inteligentes como nós, emotivas como nós, ressentidas com nossa indiferença. Pensamos que agirão como seres humanos, e que um dia engrossarão o cangote para nos enfrentar, como adolescente rebelde que dá murro na mesa e berra um palavrão para os pais.

Vai acontecer; mas não assim. Já está acontecendo, e independe das máquinas se tornarem inteligentes. Para nos derrotarem, basta continuarem sendo burras, e a fazer o que mandamos. Porque a quantidade de máquinas é tal, a quantidade de funções, tarefas e comandos é de tal ordem de magnitude, que fatalmente ocorrerá um momento em que o processo será irreversível. Não poderemos puxar a tomada, porque agora mesmo estamos desenvolvendo sistemas alternativos para o caso da tomada ser puxada e interromper algo que consideramos crucial para hoje, e pouco nos interessa o que pode acontecer amanhã. O perigo não é que as máquinas sejam malévolas, é que são burras, de uma burrice fanática, obstinada. Querem obedecer nossas ordens de hoje e o farão até o Juízo Final, mesmo que tentemos voltar atrás em desespero.

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