domingo, 2 de maio de 2010

1983) O jornalista Gay Talese (17.7.2009)



Nunca li Gay Talese, grande jornalista norte-americano que esteve de passagem pelo Brasil para participar da Feira Literária de Paraty. Também não li Tom Wolfe, outro responsável pela mistura de jornalismo investigativo e alta literatura que os americanos inventaram há algumas décadas. Meus exemplos, quando penso nesse gênero, são Truman Capote, Norman Mailer e Hunter Thompson. Mas ao longo dos anos vi muitas entrevistas de Talese, artigos sobre ele, citações e transcrições de textos seus. É um daqueles casos em que a gente nunca leu mas já conhece.

Desta vez, o melhor texto sobre GT que vi na imprensa foi um artigo de Arthur Dapieve no Globo de 12 de julho. Dapieve mediou um debate do norte-americano, e diz: “No palquinho do Instituto Moreira Salles, na noite da última quarta-feira, tive oportunidade de fazer seis ou sete perguntas a Talese. Duas minhas, as outras da platéia. No breve encontro antes do encontro e no jantar a seis que a ele se seguiu, Talese me fez umas 273 perguntas. O que você faz para viver, além de escrever? Você escreve basicamente sobre o que? Você assiste a futebol só pela TV ou também vai aos estádios? De qual cidade da Itália o seu bisavô veio para o Brasil? O que ele fazia? E o seu avô, vivia do quê? Onde trabalhou seu pai? Ele frequentou uma universidade? Você frequentou uma universidade? De quê? Você teve bolsa? Você tem filhos? Quantos anos ela tem? O que quer fazer? (...)”

Um jornalista é um cara que se interessa mais pelos outros do que por si mesmo. Muitos que vemos hoje na TV, entrevistando pessoas, passam a impressão de estar ali impacientes, olhando para o relógio, doidos que a entrevista acabe logo e eles possam ir encontrar a namorada. Não há interesse real pelo entrevistado, nem antes (procurando se informar sobre quem é, o que faz), nem durante (olhando olho no olho, entendendo, aprofundando o perguntório) nem depois (se no ano que vem tiver que entrevistar de novo a pessoa, nem vai lembrar que já a conhece).

Jornalismo é curiosidade pelas pessoas, pelos fatos, pelo mundo. Vontade de ficar sabendo. Vontade de entender direito um assunto obscuro ou complicado. Vontade de desemaranhar histórias mal-contadas por gente que tem algo a perder se a história for contada direito. Talese afirmou (na TV, para Edney Silvestre) que tudo que fez veio de uma simples determinação: a de fazer com pessoas reais o que os grandes escritores faziam com pessoas imaginárias. Se um romance sobre um camponês imaginário ou uma peça teatral sobre um caixeiro-viajante imaginário podem ser grandes obras de arte e revelar verdades humanas universais, por que motivo uma reportagem sobre um camponês de verdade ou um caixeiro-viajante de verdade também não poderiam? Desse propósito surgiram seu artigo famoso sobre Sinatra, seu estudo sobre a vida sexual dos americanos, e dezenas de outros projetos que, sendo grande jornalismo, são também grande literatura.

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