quarta-feira, 10 de junho de 2009

1084) Évariste Galois (6.9.2006)




“Genialidade e Estupidez”: é o título do capítulo que Eric Temple Bell, em seu clássico “Men of Mathematics”, dedicou a Évariste Galois (1811-1832). Há pessoas que nascem com o cérebro formatado para entender a mais abstrusa Matemática. Bell comenta que com doze ou treze anos o jovem Évariste leu o curso de Geometria de Legendre da primeira à última página, com a facilidade com que os demais garotos liam romances de piratas. Daí ele pulou direto para a álgebra de Lagrange. Suas notas no colégio, contudo, eram pífias, porque as tediosas e banais demonstrações dos professores eram-lhe insuportáveis. Galois absorvia o “estado da arte” do pensamento matemático, mas quando chegavam as provas, ele passava “pelo pau do canto”.

Foi um aluno problemático, porque, dizia-se, estava “possuído pelo demônio da Matemática”. Um dos maiores golpes que sofreu foi a reprovação nos exames para a Escola Politécnica, talvez pela incapacidade dos examinadores de entender seus raciocínios. Nessa época, tinha conseguido (equivocadamente, como se comprovou depois) resolver a equação geral de quinto grau, cometendo um erro que já tinha sido cometido no passado por Niels Henrik Abel. “Por um curto período de tempo,” diz Bell, “ele acreditou ter conseguido o que todos sabiam ser impossível”. Aos 17 anos, estava fazendo descobertas na teoria das equações, “descobertas cujas implicações, cem anos depois, ainda não foram esgotadas”.

Galois parece ter sido perseguido por uma curiosa falta de sorte; há pelo menos dois episódios em que manuscritos com ousadas teorias suas foram extraviados nas mãos de examinadores acadêmicos. Ele voltou-se para a agitação política, do lado dos republicanos, metendo-se numa complicação depois da outra, até acabar na prisão no final de 1831, saindo dela em maio de 1832.

Em 29 de maio ocorreu algo que até hoje está envolto em mistério. Ao que parece, Galois foi insultado por anti-republicanos e desafiado para um duelo. Passou acordado aquela noite, sabendo que ia morrer, e anotando por escrito todas as idéias matemáticas a que ainda não havia dado forma. Diz Bell que as folhas manuscritas destas últimas horas estão cheias de anotações desesperadas, à margem, dizendo: “Não tenho tempo, não tenho tempo”. Fez um testamento deixando tudo nas mãos de seu amigo Auguste Chevalier, pedindo-lhe que encaminhasse aos grandes matemáticos da época suas descobertas. Diz Bell: “O que ele escreveu durante aquelas horas de desespero até o raiar do dia deverá manter gerações de matemáticos ocupados durante os próximos séculos”.

Na manhã de 30 de maio de 1832, Évariste Galois saiu para enfrentar seu adversário, cuja identidade até hoje se desconhece. O duelo era de pistolas, e ele foi encontrado, horas depois, com os intestinos perfurados por um tiro. Levaram-no a um hospital, onde morreu na manhã seguinte. Tinha vinte anos, e deixou para o mundo sessenta páginas de manuscritos matemáticos.

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