sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

0728) O governo invisível (19.7.2005)



Quem manda no Brasil? O Governo Federal? As Forças Armadas? O Poder Judiciário? O PT? O FMI? Sem desmerecer a força destas instituições, ouso crer que quem manda no Brasil é um governo invisível que se reveza no Poder desde o “grito da independência”. Saiu há pouco uma estatística divulgada pelo banco de investimentos Merrill Lynch. O número de milionários brasileiros aumentou 7,1% entre 2003 e 2004. Em 2003, havia 92 mil milionários no país; em 2004, passaram a ser 98 mil. O conceito de milionário, no caso, é definido como “indivíduo que tem mais de um milhão de dólares (cerca de dois milhões e meio de reais) investidos no mercado financeiro”. Esta restrição indica, pelo menos a mim, que o número de milionários no sentido mais amplo deve ser muito maior. Jogador de futebol, por exemplo, não investe no mercado financeiro. Jogador adora comprar imóveis. Se formos considerar pessoas que têm mais de um milhão de dólares em terras, prédios, etc., dá muito mais gente. Oba! Somos ricos.

Um milionário típico desta nova geração é este inefável Marcos Valério, o homem mais famoso do país (ontem contei 11 menções ao nome dele num único bloco do Jornal Nacional). Se dois meses atrás alguém jogasse o nome dele no Google, talvez achasse 100 ou 200 menções – afinal, o cara se diz publicitário. Só pra comparar, busquei agora: deu 109 mil. Mas não pensem que eu tenho preconceito contra milionários. Eu mesmo pretendo chegar a ser um, o que não é matematicamente impossível. Pretendo, por exemplo, publicar um livro reunindo estes meus artigos no “Jornal da Paraíba”. Digamos que o livro custe 30 reais; eu, como autor, ficarei com 3 reais por cada livro vendido. Basta vender... calma, tô calculando... basta vender um pouco mais de 333 mil exemplares, e pronto, serei o novo milionário brasileiro. (Um momento – agora me dei conta de que o conceito é calculado em dólares. Então, basta o livro sair nos EUA e vender 333 mil cópias por lá.)

O que estou querendo dizer é que todo mundo tem direito de ser milionário, desde que se milionarize através do trabalho publicamente exercido e dentro dos limites da legalidade – que aqui na Pátria são meio rígidos para quem anda de ônibus, mas vão ficando mais generosos à medida que o sujeito se marcosvaleriza (rapa a cabeça, compra terno italiano, etc.) Esse processo é típico de economias emergentes: países com grande população, intensa atividade econômica localizada em alguns setores, legislação frouxa, deslumbramento consumista com as infinitas opções de gasto que o capitalismo oferece a quem não sabe mais o que fazer com tanto dinheiro que lhe cai nas mãos. Lembram aquela divertida comédia policial de William Wyler com Audrey Hepburn, Como roubar um milhão de dólares? Se alguém no Brasil fizer um documentário intitulado “Como lavar um milhão de dólares” pode muito bem se tornar nosso mais novo milionário.

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