quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

0681) Pênalte é loteria? (25.5.2005)



Acompanhei, com o coração na mão, os jogos entre Treze e Fluminense pela Copa do Brasil. Sofri como não sofria há anos, e estou aqui (na manhã seguinte) com queda de pressão, dor de cabeça, e na boca um gosto de cabo-de-guarda-chuva. Ainda assim, coleguinhas, acho que valeu a pena e que fizemos bonito. O Galo está com um belo time, principalmente quando resolve partir para o ataque, como fez no segundo tempo do jogo decisivo, quando criou coragem e conseguiu colocar o Fluminense em seu devido lugar. Ganhamos com um gol irregular (me lembrou o gol de Emerson pela Seleção, no recente jogo contra a Argentina), mas o “placar moral” como diria Otelo Caçador foi justíssimo. Só perdemos nos pênaltis, como naquela outra vez contra o Corinthians, mas tenham certeza de que os vitoriosos voltaram pro Rio sentindo na boca um gosto de corrimão-de-cabaré.

Depois do jogo, na Rádio Globo, alguém veio com a surrada história de que “pênalte é loteria”. Isso é mais uma dessas famosas burrices que o pessoal do futebol vive repetindo desde que eu nasci. Pênalte é técnica, meus amigos. Técnica e treino, coisa que jogador brasileiro detesta. Os bons batedores de pênalte são aqueles caras que depois do coletivo chamam o goleiro juvenil e dão 50 chutes contra ele. Os outros não tem tempo, querem tomar banho, pegar o carrão, e ir para a “balada”, ou a buate, ou a gravação do comercial de cerveja. Na hora H, chutam nas nuvens e dizem que pênalte é loteria.

Uma disputa em jogo decisivo que acaba 9x8 indica uma única coisa: dois times tecnicamente bem preparados e com os nervos no lugar. Ainda mais considerando que estavam chutando contra dois excelentes goleiros. Em 20 pênaltis fizeram 17, quase todos foram muito bem batidos. A certa altura, alguém tem que errar, e essa má sorte coube a Wagner Diniz, que deslocou o goleiro mas bateu mal no canto oposto, para fora. Paciência. É do jogo. O Treze fez ótima campanha, e lembro agora o comentário de Luiz Mendes na Rádio Globo, no jogo em São Januário: “Vejam como é engraçado o futebol brasileiro: esse time da Paraíba joga na série C, mas é melhor do que muitos da série B, e do que alguns da série A”.

O pênalte de Diniz (o decisivo) foi mal batido? O de Beto, no travessão, foi mal batido? Não acho. Mal batido é quando sai um chutão na arquibancada, ou uma cafofa que mal chega nas mãos do goleiro. A cobrança dele me lembrou uma de Edmundo (Vasco) contra Dida (Corinthians) na decisão da Copa Mundial de Clubes, no Maracanã. Edmundo deslocou Dida para a direita, e chutou na esquerda... para fora. A jogada foi correta, perdeu devido a uma diferençazinha na execução. Isso não é pênalte mal batido, é um risco consciente, uma jogada que é executada em poucos segundos, e se o pé bater na bola um centímetro pra lá, ou pra cá, dá um metro de diferença quando ela chega no gol. A bola de Diniz passou pertinho. Paciência. Pênalte é técnica, e nenhuma técnica é infalível.

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