(Brian White)
Dias atrás estive participando de um ciclo de palestras promovido pela ONG “Leia Brasil”, numa mesa onde se discutiam assuntos ligados à indústria cultural. O mais interessante dessas discussões é que geralmente toma-se algum exemplo-símbolo de uma situação qualquer. Neste caso, as pessoas começaram a citar o programa de Ratinho como exemplo do que havia de pior na indústria cultural. De dez em dez minutos, lá vinha ele no meio de uma argumentação qualquer: “O problema de país é a baixa instrução, o pouco acesso à cultura, porque se as pessoas tivessem acesso à boa literatura elas não iriam assistir o programa do Ratinho”.
Coitado do programa do Ratinho, do qual não gosto nem um pouco, mas que acaba concentrando em si bordoadas que poderiam ser mais bem distribuídas. Em primeiro lugar, eu não acho que se toda a população brasileira de repente ficasse alfabetizada e culta esse tipo de programa iria desaparecer. O programa de Ratinho (pelo que me lembro dele, das 10 ou 12 vezes que o vi até hoje) se baseia num tipo de sensacionalismo que já vem desde a imprensa escrita, desde Gutenberg. É a exploração dos crimes, das tragédias familiares, dos episódios mundo-cão, de personagens grotescos ou ridículos, tudo isto misturado com uma atitude veemente de defesa da moral e dos bons costumes, e da “proteção às camadas populares”. A própria literatura de cordel, que tanto exaltamos, tem ciclos inteiros dedicados a explorar esse filão.
A TV americana faz a mesma coisa. Não é a escolaridade-média que resolve. Programas desse tipo sempre vão existir. Eles satisfazem algum tipo de fascinação mórbida que todos nós temos na direção do que é grotesco. Proibir esses programas (como alguns mais exaltados sugerem) não iria resolver nada. O problema não são os programas ruins, é o fato de que, sendo impostos de cima para baixo, a população se acostuma com eles e passa a tê-los como uma espécie de ritual diário. E o que leva a isto é a enorme concentração de poder nas mãos de uma meia-dúzia de grupos que controlam as telecomunicações.
Ratinho é apenas a isca da ratoeira. Ele serve como o chamariz para atrair a curiosidade meio doentia do público e fazer os níveis de audiência (e o preço do minuto de publicidade naquele horário) subirem à estratosfera. Se em vez de 3 ou 4 grandes redes de TV tivéssemos 30 ou 40, talvez tivéssemos dez vezes mais Ratinhos, mas nenhum teria esse mesmo peso, e as probabilidades de que surgissem programas de boa qualidade (do nossos ponto de vista) seriam muito maiores. Quebrar o monopólio das grandes redes, regionalizar a produção, é o único caminho para melhorar a TV. Muita besteira nova ia aparecer, decerto. Mas eu preferiria correr o risco de ter dez ratinhos em cada Estado, desde que as coisas boas que certamente existem em cada Estado, e que não têm vez nas redes centralizadas no Rio e em São Paulo, pudessem também aparecer.
Coitado do programa do Ratinho, do qual não gosto nem um pouco, mas que acaba concentrando em si bordoadas que poderiam ser mais bem distribuídas. Em primeiro lugar, eu não acho que se toda a população brasileira de repente ficasse alfabetizada e culta esse tipo de programa iria desaparecer. O programa de Ratinho (pelo que me lembro dele, das 10 ou 12 vezes que o vi até hoje) se baseia num tipo de sensacionalismo que já vem desde a imprensa escrita, desde Gutenberg. É a exploração dos crimes, das tragédias familiares, dos episódios mundo-cão, de personagens grotescos ou ridículos, tudo isto misturado com uma atitude veemente de defesa da moral e dos bons costumes, e da “proteção às camadas populares”. A própria literatura de cordel, que tanto exaltamos, tem ciclos inteiros dedicados a explorar esse filão.
A TV americana faz a mesma coisa. Não é a escolaridade-média que resolve. Programas desse tipo sempre vão existir. Eles satisfazem algum tipo de fascinação mórbida que todos nós temos na direção do que é grotesco. Proibir esses programas (como alguns mais exaltados sugerem) não iria resolver nada. O problema não são os programas ruins, é o fato de que, sendo impostos de cima para baixo, a população se acostuma com eles e passa a tê-los como uma espécie de ritual diário. E o que leva a isto é a enorme concentração de poder nas mãos de uma meia-dúzia de grupos que controlam as telecomunicações.
Ratinho é apenas a isca da ratoeira. Ele serve como o chamariz para atrair a curiosidade meio doentia do público e fazer os níveis de audiência (e o preço do minuto de publicidade naquele horário) subirem à estratosfera. Se em vez de 3 ou 4 grandes redes de TV tivéssemos 30 ou 40, talvez tivéssemos dez vezes mais Ratinhos, mas nenhum teria esse mesmo peso, e as probabilidades de que surgissem programas de boa qualidade (do nossos ponto de vista) seriam muito maiores. Quebrar o monopólio das grandes redes, regionalizar a produção, é o único caminho para melhorar a TV. Muita besteira nova ia aparecer, decerto. Mas eu preferiria correr o risco de ter dez ratinhos em cada Estado, desde que as coisas boas que certamente existem em cada Estado, e que não têm vez nas redes centralizadas no Rio e em São Paulo, pudessem também aparecer.
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