sábado, 13 de setembro de 2008

0542) A volta do Inspetor Clouseau (14.12.2004)



Todo mundo gosta de fazer piada com os portugueses, inclusive eu, mas vejam só o que os nossos civilizadíssimos franceses andam aprontando. Dias atrás, a polícia francesa estava fazendo um treinamento com cães farejadores, no aeroporto Charles De Gaulle. Uma certa quantidade de explosivo foi colocada no interior de uma mala escolhida aleatoriamente numa esteira de bagagens. (Não me perguntem por que eles pegaram a mala de um pobre coitado, em vez de levarem uma mala deles mesmos. Não acho que o cachorro fosse perceber a diferença.) Em todo caso, os explosivos foram colocados na mala, e alguém foi buscar o cão.

Foi aí que alguém se distraiu... e a mala, com os explosivos dentro, foi colocada de volta na esteira rolante, que a levou embora. Ao chegarem os policiais com o cão farejador, estava o canto mais limpo, ninguém tinha idéia de onde a mala tinha ido parar. Cerca de 80 a 90 aviões estavam partindo do aeroporto naquele horário, entre as 5:30 e as 7 horas, e a mala poderia ter ido para qualquer um deles. Não houve como pegá-la de volta. O máximo que os franceses conseguiram fazer foi avisar as autoridades dos EUA para revistarem todos os vôos que chegassem do Charles De Gaulle. O que deu no belo bafafá. Um avião que desceu em Los Angeles, por exemplo, foi evacuado, as bagagens de 300 passageiros foram revistadas, e o vôo só prosseguiu rumo ao Taiti com várias horas de atraso.

A polícia apressou-se a explicar que não havia perigo de explosão, uma vez que os explosivos não estavam conectados a um detonador, mas duvido que isso me deixasse muito tranqüilo se eu descobrisse aquela má-notícia dentro da minha valise. São apenas 150 gramas, ou seja, dificilmente o portador da bagagem vai sentir um peso extra e desconfiar. Provavelmente ele só vai perceber o objeto estranho quando desembarcar aqui no Rio (sim, havia vôos de Paris rumo ao Brasil naquele horário), e não vai saber do que se trata. Mais paranoicamente ainda, podemos imaginar que o desafortunado passageiro estava indo na direção de Londres, e acabou sendo preso no aeroporto de Heathrow, sem saber explicar o que diabo era aquilo que trazia entre suas meias e cuecas.

Osama Bin Laden, no seu vídeo mais recente, divulgado há mais de um mês, dizia que iria destruir os EUA usando a própria força e riqueza destes. Disse ele: “Basta um árabe aparecer em qualquer recanto do seu país dizendo que pertence à Al-Qaeda para mobilizar um aparato militar e policial, e gastar centenas de milhares de dólares.” Há muitas maneiras de destruir um inimigo poderoso, um inimigo dado a excessos, um inimigo que tem muito poder e que na hora de um aperto é obrigado, pelo simples fato de dispor desse poder, a usá-lo em sua plenitude. Se Bin Laden quiser, leva os EUA à falência nos próximos 10 anos, sem precisar disparar um tiro sequer. Basta-lhe criar alarmas falsos e ameaças fantasmas. Além de contar com as ameaças que os próprios trapalhões que o combatem irão criar para si próprios.

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