Vi Maradona na TV. Ele sempre foi gordinho, mas agora está estufado. Lembro de um provérbio cruel que já ouvi muitas vezes: “Jogador de futebol e rapariga só tem 15 anos de vida útil.” A pessoa tem esse período para fazer o que tiver de fazer, ganhar o que puder ganhar. Depois, vai ser técnico ou cafetina. O caso de Maradona me lembra também o fato de que a vida é cheia de yins e yangs, como dizia o Budista Tibetano. Forças opostas, que vivem da tensão recíproca, que se atraem e se repelem, e que podem ser destruídas tanto pela ausência quanto pela presença excessiva da outra.
Muita gente pensa que sucesso e fracasso são o contrário um do outro. Na verdade, sucesso e fracasso são as extremidades opostas de uma outra coisa: o controle sobre o próprio destino. Quando o indivíduo consegue manter esse controle, ele evita ser destruído pelo sucesso e pelo fracasso; pelo excesso e pela falta. Existem milhões de exemplos de indivíduos destruídos pelo fracasso, ou seja, pela incapacidade de seguir uma carreira, de arranjar um emprego, de se sustentar, de se alimentar. E existem exemplos mais raros (porém muito mais visíveis) de indivíduos destruídos pelo sucesso, pelo fato de terem perdido o controle sobre suas vidas justamente quanto tudo parecia estar indo bem até demais.
(Talvez seja melhor dizer, então, que existe um “sucesso-fracasso”, que implica na perda do controle, e um sucesso propriamente dito, que é quando o indivíduo consegue manter-se em equilíbrio com tudo de bom que lhe acontece. Sucesso-fracasso: a implosão precoce dos Beatles, Hendrix, Joplin. Sucesso: a continuidade profissional dos Rolling Stones, Bob Dylan.)
Maradona fêz no futebol, com uma perna só, o que Pelé fêz com duas. Foi um desses canhotos de gênio que o futebol nos apresenta com tanta freqüência. Na Copa de 86, fêz gol de mão, fêz gol de placa, e com dois lançamentos geniais deu a Valdano e Burruchaga os gols que deram o título à Argentina. E conheceu o lado mais tenebroso do sucesso: o dinheiro excessivo, a notoriedade asfixiante, a adulação generalizada, a manipulação política, os amigos de ocasião, os bajuladores, os parasitas, os fornecedores de drogas pesadas e de mulheres posudas. Não seria exagero comparar sua ascensão e queda com a de Michael Jackson: outro garoto de talento cuja ambição pôs em marcha um mecanismo tão poderoso que acabou por ultrapassá-lo, arrastá-lo e reduzi-lo a pó.
Comparar Maradona com Pelé? Prefiro compará-lo com Garrincha. Dentro do gramado era um Deus; quando saía, mergulhava no caos. Ficava cercado de aproveitadores, de maus conselheiros, e até mesmo de gente bem intencionada que queria apenas pedir um favor ou desfrutar de sua proximidade. Dizer que foi destruído pela droga é uma verdade incompleta. O vício foi apenas o ingrediente mais cruel de uma receita que já teria sido cruel sem ele.
Um comentário:
levo comigo.
um abraço.
romério
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